terça-feira, 30 de março de 2010

Quando será a última vez???


Hoje, as 13h, como de costume nas tardes livres, coloquei a tv no canal 43 pra assistir a mais um episódio do seriado que eu aprendi a adorar: House. E hoje eu não ri das suas ironias, não me irritei com suas grosserias e nem o aplaudi internamente por sua genialidade. Hoje eu vi, pela primera vez, o lado humano desse personagem polêmico.

Pra resumir o episódio. Ele sofre um acidente de ônibus e perde a memória recente. A única coisa que ele sabe é que alguém está prestes a morrer e ele precisa salvar aquela vida, por uma razão que ele desconhece. Aos poucos, à base de remédios e de eletricidade enviadas ao seu hipotálamo (região do cérebro responsável pela memória) ele vai se lembrando do acontecido. Por que ele não tem limites. Isso é da sua personalidade. Mas ele começa arriscar de verdade a sua vida por aquelas lembranças quando ele descobre que a pessoa a ser salva é a mulher do seu melhor amigo, Wilson, que estava com ele no ônibus. Obviamente ele a tratava com todo o desprezo do mundo. Mas sabe-se que no fundo (e nem tão no fundo assim) ele gostava dela. Ele precisava saber o que aconteceu antes do acidente. Pois não era apenas o acidente que estava matando Amber. Ela tinha sintomas que revelavam algo mais. E ele, e sua equipe genial de investigadores, desvendam o mistério. Mas ela não tem saída. Nada pode ser feito. Ela vai morrer. E, pela primeira vez na vida, ele não segue só aos seus instintos. Porque dessa vez ele ouve a opinião de Wilson. Aquela mulher à beira da morte não é uma paciente qualquer. É a mulher que faz o melhor amigo dele feliz. Depois de tantas investidas afim de recuperar sua memória, Dr. House tem sucesso, mas sofre um infarto e depois entra em coma. Não antes de dizer ao seu amigo que sente muito. Que nada mais pode ser feito por ela. Cuddy, a chefe do hospital dá à Wilson a oportunidade de se despedir de sua mulher. Ela vai morrer. Mas ela pode ser reanimada. Pra viver algumas horas. E assim é feito. Ela volta. Wilson lhe dá a notícia. Os colegas vem pra se despedir. E nos últimos momentos de sua vida, Wilson não sai do seu lado. E assim ela parte. Com o seu amor abraçado à ela, numa cama de hospital, dizendo o quanto a ama. Minutos antes da morte, ele pergunta à ela: "Como você pode estar calma? Não sente raiva?" Ao que ela responde: "Raiva não é a última coisa que quero sentir!" E vai. Fecha os olhos e vai. Em seguida, vemos o que todos os seus colegas de hospital fizeram depois daquilo. Um dos novos assistentes de House chega em casa e abraça sua mulher como talvez nunca havia feito em toda sua vida. Wilson chega em casa e acha um bilhete dela que dizia: "Desculpe não estar aqui, fui buscar House." E assim por diante. Eu terminei de ver o episódio com a cara inchada de tanto chorar, pensando: "Como você se despede de alguém assim, sabendo que nunca mais irá vê-lo? Como você deixa a vida te levar alguém tão jovem, alguém com quem você tinha planos? Casa, filhos, uma vida?!?!?! Por que essas coisas não podem ser previstas e evitadas?"  Fiquei alguns minutos meio em transe. Não conseguia parar de chorar.

Peguei minha toalha pra tomar banho, mas antes passei pelo computador e li uma mensagem de uma grande amiga que dizia: "uma tragédia aconteceu Tati... meu pai faleceu ontem... to atordoada... sem rumo, sem chão, sem nada..." 

Segundos em apnéia.

Peguei o celular e fiz um interurbano. Minha amiga, o que aconteceu? E foi isso. Sem aviso prévio. Sem uma previsão. Sem dó. O pai da minha amiga. Assassinado. Tiraram o pai da minha amiga. Liguei pra não dizer nada. Porque eu não sabia dizer nada. Eu ouvia seu choro e chorava junto. Por que tem que ser assim? Eu conhecia muito bem a relação daqueles dois. E nunca vi cumplicidade igual, carinho igual. Um amor incondicional. Cheguei, por vezes, a sentir uma certa inveja daquela relação pai e filha. Eu conhecia aquele homem. Que era de uma doçura sem fim. E de um nome lindo. Já pensei muito em dar aquele nome ao meu filho. Não por causa do cantor. Mas por causa do pai da minha amiga. Tiraram ele da minha amiga, da família deles, das netas que nasceram há pouco mais de um ano. E esse caso foi muito diferente do primeiro. Eles não puderam se despedir. A última vez que ela o viu com vida ela nem sequer sabia que seria a última vez. A última vez que eles se falaram, não era a última vez pra ela. Nem pra ele, suponho.

E, se não temos o dom da adivinhação, como saberemos que será a última vez que veremos alguém? Como saber que a última vez que encontramos alguém querido e que não o tratamos como deveríamos ter tratado, se não o dissemos o quanto o amamos e o quão importante ele(a) nos é, foi de fato a última chance que tivemos? Como podemos ter a audácia de desdenhar alguém pensando em talvez se redimir numa próxima vez se a próxima vez pode não existir???? 

O destino muitas vezes é cruel, mas, pensando bem, nós humanos somos um pouco mais...

Nós somos feito máquina. A qualquer momento um fiozinho pode se desligar do outro e fazer a máquina parar de funcionar. Um motorista alcoolizado pode cruzar nosso caminho. Um simples tropeção no box do chuveiro. Uma intoxicação depois de um almoço de família. A violência urbana. Muita gente que sai de casa e não volta. São tantas as possibilidades  pra um único fim. Todos nós partiremos um dia. E não há como prever que dia será esse. E pior do que partirmos um dia, é saber que alguém que amamos muito partirá antes. Deixando um cadeira vazia na mesa de jantar. Um silêncio na hora do gol. Uma ausência de abraço. Um número de telefone na agenda sem ninguém pra atender do outro lado. Uma metade vazia na cama. Aí você vai se perguntar: Por que eu não disse que a amava com toda minha alma? Por que eu não o levei pra ver o Sol se pôr ao menos uma vez? Por que eu não larguei tudo numa tarde de segunda-feira pra levá-la pra um pique-nique no parque? Por que eu não lhe fiz uma surpresa no último aniversário? Serão tantas a perguntas pra tentar entender o porque nosso orgulho ou nossa "falta de tempo" é maior do que o nosso amor que depois disso só mesmo torcendo pra que Chico Xavier estivesse certo. Porque, no fundo, acreditar em vida após a morte é mais uma maneira de suscitar a esperança de que um dia encontraremos novamente as pessoas que perdemos.

sábado, 27 de março de 2010

Roteiro de cinema


Ele, sem camisa, careca e todo tatuado, vem andando a passos bêbados de baixo de chuva. Ele ouve um cântico. Pára. Se vira. As pernas cambaleaim. Ele ouve o chamado. Segue. Chora. Seus joelhos dobram. Ele leva as mãos aos céus. Chora alto, copiosamente, clamando Aleluia. Fios de baba e lágrimas se misturam com a  água da chuva que ainda escorre pelo seu rosto.

CORTA PARA/

Do outro lado da telona ela assiste a cena embasbacada. Num misto de admiração e emoção, ela quase se dá conta do calor que sobe pelo seu corpo ao ver o ator. Ela não entende muito bem aquela sensação. A única certeza que ela tem é que o filme se resume naquela cena. Ao menos pra ela. E que o frio no estômago é real. Uma sensação quase sexual. O ator. Quase isento de beleza. Mas de uma pulsação e uma libido como ela nunca viu igual. Aos poucos lhe vem a estranha constatação da primeira vez em que ela sente desejo por alguém numa tela.

CORTA PARA/

Anos, muitos anos depois, numa noite qualquer, ela põe um salto e vai à uma festa. Anda pra lá, anda pra cá até que para no meio da pista pra dançar. Então eles se notam. Nem ele antes, nem ela antes. Ao mesmo tempo. Os olhares se encontram. No mesmo exato segundo. A primeira coisa que a atinge é o calor. A mesma sensação de anos atrás. Aquele frio no estômago. Um arrepio na nuca. E, logo em seguida, a cena lhe passa na cabeça, como um microfilme. Ela pisca. Ele sorri. Eles dançam a poucos metros de distância. Num breve momento de distração dela, ele desaparece. Ela procura. Desiste. Quando olha novamente lá está ele. No palco. Observando-a. Novo breve momento de distração. Ele desaparece mais uma vez. Ela se estica pra olhar por cima das centenas de cabeças à sua procura. De repente alguém segura seu braço.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Qual o tamanho do seu preconceito???


Eu não sou fã de Big Brother e nunca imaginei que um dia escreveria sobre tal assunto no meu blog. Até porque sou muito mais conhecida pelas minhas catarses pessoais do que pelas minhas opiniões.

Mas há alguns dias tenho visto em faces, blogs e afins a total aversão do público pseudo-formador de opinião à figura grotesca de Marcelo Dourado. Ninguém esconde sua absoluta insatisfação ao deparar-se com a possível vitória dessa figura machista, que já rendeu intervensão judicial à emissora ao declarar que heterossexuais não pegam o vírus HIV. E não, definitivamente, eu não vim aqui perder meu tempo a fim de defendê-lo, apenas quero questionar qual o tamanho do nosso preconceito.

Nós crescemos lendo em livros infantis e vendo nos folhetins que existem os vilões de um lado e os mocinhos do outro. Mas desde quando alguém é 100% bondade ou 100% maldade?

A mitológica figura da Nazaré, por exemplo. Quem não odiou, não se divertiu e não amou essa personagem? Ela roubou, matou, mentiu, se corrompeu a troco de quê? Simples. Do amor que ela sentia por aquela filha.

Quem não assistiu ao filme Crash- No Limite, e não sentiu raiva do policial que molestou a atriz e algumas cenas depois não se sensibilizou com o cara passando as noites em claro por causa da infecção urinária do pai?

Hitler entrou pra história como o maior de todos os montros em figura humana. Mas sabe-se que ele lutava por uma causa que ele achava nobre. E, de uma certa forma, sabemos que, com todo aquele poder de persuasão, se ele tivesse brigado por uma causa que beneficiasse a humanidade toda, ao invés de só beneficiar a raça albina, ele teria sido condecorado como o maior herói de que já se ouvir falar. E, hoje, sentaríamos num banco da praia ao lado de sua estátua.

Esses são exemplos extremos, eu sei. Mas quantas vezes você foi o vilão da história? E quantas vezes você foi o atingido? Quantas pessoas te amam e dariam a vida por você? Quantas pessoas te odeiam e seriam capazes de tudo pra te tirar do caminho?

Não acho nenhum absurdo um dito machista levar o prêmio máximo do programa. Afinal, existem tantos por aí. E eu já conheci muita mulher machista. Elas também existem. Aos montes.

Ele não é muito diferente de muita gente que anda solta pelo mundo afora e fico me perguntando se essa total aversão à essa figura não é uma espécie de um auto-reconhecimento. Nunca se ouviu falar de alguém que consiga conviver bem com outrém que possui os seus mesmíssimos defeitos. Se olhar no espelho nem sempre é fácil.

Se discutimos os princípios do Dourado, se o condenamos, se o odiamos, isso também não será  uma espécie preconceito? Ou pré-conceito, como eu prefiro nominar esse sentimento de aversão?

Se ele não levar esse prêmio, ele, no mínimo, vai ficar muito perto disso, então isso significa que ele não é tão rejeitado assim. Os que o colocam na fogueira serão os mesmos que lhe darão o voto e, conseqüentemente a vitória. Então, paremos de hipocrisia. É melhor ao menos admitir que ele causa boas risadas. E é obvio que quando ele sair de lá, veremos velhinhas e crianças pedindo autógrafo pro cara. 

Eu assisti à eliminação do Serginho e fiquei me perguntando: quantas daquelas pessoas que estavam ali na platéia pra torcer por ele, sejam familiares ou amigos, realmente o amavam ou eram oportunistas? Imaginei aquela tia velha que o xingou de boiola a vida toda mas que, no momento da fama do garoto estava li pra dizer o quanto o ama e o aceita como ele é. Isso é menos condenável?

Eu não agrado a totalidade das pessoas que convivem comigo, pelo contrário, a cada dia percebo que eu irrito muito mais do que agrado, por alguma razão que desconheço. Isso também acontece com você. Afinal, ninguém é obrigado a gostar de ninguém. E ninguém, absolutamente ninguém, é obrigado a te aceitar do jeito que você escolheu pra ser. Quem aceita, ama e fica. Quem não aceita, a porta é a serventia da casa.

Deixo claro que eu não gosto nem desgosto da figura gaúcha-moicana-tatuada de Dourado, até porque eu pouco acompanho essa novelinha da vida real. Mas, se a minha humilde opinião importa, a hipocrisia de um público alienado, nesse momento, me irrita muito mais do que a forma que esse sujeito calhou de se inventar. E eu não estou dizendo, de forma alguma que ele está certo ou errado.

Qualquer tipo de preconceito é ruim, qualquer tipo de preconceito é condenável. E quem é que está completamente livre dele? Quem é que está completamente livre de exercer, mesmo que internamente, algum tipo de preconceito? Quem é que está completamente livre de sofrer, mesmo que numa porção mínima, algum tipo de preconceito?

Negros, pobres, machistas, loiras, gays, cegos, punks, judeus, hippies, cantoras de axé, ricos, analfabetos, siliconadas, índios, gordos, aleijados, atores, surdos-mudos, aidéticos, lixeiros, atendentes do Bob´s, alterofilistas, anoréxicas, portugueses, esdrúxulos, ex-BBBs, evangélicos, fumantes, socialites, Down's, nerds, favelados, idosos, alcoólatras, estrábicos, transexuais, anões, prostitutas, etcétera. Quantas pessoas diferentes habitam o mundo?

E fica a pergunta: Qual o tamanho do SEU preconceito?







quarta-feira, 17 de março de 2010

O que você faria?


Hoje o dia amanheceu escuro. O Astro Rei não pôde se despedir. Ele chorou tanto que virou uma grande bola de fumaça. Os operários não vieram levantar os muros da nova moradia dos ricos. O padeiro não assou pães.  A colheita nos campos foi interrompida, só o trator, que foi esquecido ligado, faz seu trabalho inútil e desgovernadamente. Nas salas de aula nenhum rabisco sequer nos quadros-negros. Os passarinhos ainda cantam, mas não é pra nos agradar, nem deixar as coisas mais leves, é porque não os resta mais nada a fazer.

O céu consegue reproduzir uma escuridão mais escura que a própria escuridão e vai dando como amostra uns raios aleatórios. 
O mar já lambe as calçadas.
Leves e espaçados tremores de terra já podem ser sentidos.
A água potável acabou, não sobrou uma gota.
Os grupos terroristas do mundo inteiro já se uniram, conseguiram mais aliados no caminho, já declararam a Terceira Guerra Mundial e agora espreitam sobre os nossos telhados.
Um chuva de meteoros risca os céus.
A energia elétrica foi cortada. Os telefones ficaram mudos. Os mercados foram saqueados. Os bichos de estimação foram sacrificados.

Não há pra onde fugir. Não há como fugir. Não há porque fugir.

O mundo vive seus últimos momentos. A raça humana vive seus últimos minutos. Eu, você, nós e eles temos pouco tempo pra realizar as últimas coisas, pra colocar um ponto nos assuntos inacabados, pra fazer tudo aquilo que sempre tivemos vontade e sempre nos faltou coragem.

Se alguém te magoou seriamente, aproveite a oportunidade pra lhe dar um murro muito bem dado no meio das fuças. Um no estômago também vai bem. Mas não cometa a insanidade de acabar com sua vida, deixe que ele assista o mundo o engolir.
Se você ama alguém incondicionalmente, leve-a pra aquela igreja abandonada e saqueada e case-se com ela. Sem padre, sem cerimônia, apenas celebrem a união de sua almas dando uma boa trepada no altar, sob a benção dos santos.
Se você sempre quis cantar, mas nunca teve coragem, aproveite que todas as pessoas estão pelas ruas, suba no lugar mais alto e solte sua voz pra elas.
Se você nunca viu o mar, corra em direção à ele o mais rápido que puder. Vai ser emocionante levá-lo como última visão.
Se você é mulher, bata na porta daquele seu vizinho gostoso e se ofereça à ele como última refeição, e nem precisa perguntar seu nome.
Se você é homem, bata na porta daquele seu vizinho gostoso e se ofereça à ele como última refeição. Você não vai ter outra oportunidade de experimentar e, vendo pelo lado positivo, ninguém vai poder te zoar depois.
Se você tem amigos essenciais na sua vida e nunca disse isso à eles, essa é a hora.
Se você tem um filho egoísta, mau-caráter ou assassino, diga à ele que você o ama.
Se seu filho é a melhor criatura do mundo não precisa dizer nada, ele já entendeu tudo.
Se você magoou seriamente alguém, aceite o murro.
Se você é rico rasgue dinheiro e jogue-o pro ar.
Se você é pobre limpe a bunda com dinheiro, só de raiva. Você não vai mais precisar dele mesmo.
Se você tem uma família grande, abrace cada um deles. Depois abrace de novo. Depois se abracem todos juntos e cantem uma canção natalina.
Se você não tem família, você não é o único, tem muita gente por aí que também não tem. Vão agregando familiares pelo caminho, façam uma corrente.
Se você se acha gorda dispa-se no meio da rua, se olhe nos reflexos das vitrines e se sinta linda.
Se você sempre quis voar, mas sempre teve medo, perca-o. Suba na pedra mais alta e sinta o vento fazer barulho no seu ouvido.
Se você é crente, católico, espírita, budista, judeu, reze sua reza, cante seu canto, faça sua oração.
Se você é ateu e não sabe rezar não tem problema. Faça algo que te deixa feliz.
Se você tem tesão em árvores, vá em frente. Ninguém vai parar pra te criticar a essa altura do campeonato.
Se você vive de dieta e não aguenta mais, mata um homem e come.
Se você tem filhos pequenos primeiro brinque bastante com eles, depois coloque-os pra dormir.
Se você não costuma chorar, chore. É bom.
E se você nunca acreditou em vida após a morte, tenho certeza que agora você vai crer. Nem que seja baseado na necessidade de discutir sobre esse acontecimento lá do outro lado.

Você acha absurdo isso tudo que acabei de dizer? Eu tembém tentei avisar os dinossauros...









   

sexta-feira, 12 de março de 2010

Da solidão dos homens.


O homem é, por natureza e, e até mais por falta de opção, um ser solitário. 

Primeiro ele nasce. Sozinho. Sofre as dores de sair do lugar mais confortável (e solitário) do mundo prum outro mundo desconhecido, cheio de luz e frio, poeira e caos, sem ser consultado se essa era, de fato, a sua vontade. A medida que vai evoluindo, aprendendo a andar, falar, comer, ganhar e perder dentes, crescer, ir pro primeiro dia de aula, estudar, etc... vai, aos poucos, entendendo que estas são, cada uma delas, experiências particulares. Levantar pela manhã, tomar café, se vestir, ir ao trabalho, por mais que se faça isso tudo acompanhado, não deixa nunca de ser uma experiência solitária. Ele pode até ter alguém assitindo, mas a decisão e o ato de realizar, até mesmo as pequenas coisas, é interno e intranferível. As decisões. Os acertos. E, principalmente os erros, quem nos acompanha nesse jogo de roletas infinito, ao não ser nós mesmo?

Almoçar sozinho na correria do dia-a-dia. Assistir sozinho a um filme europeu incrível. Os sonhos, tanto os noturnos, quanto os da vida, são solitários. Por mais que eles envolvam outras pessoas. Ainda assim são solitários, porque a idealização deles só pertencem à um. O sexo às vezes também é solitário.  Mesmo que envolva duas ou mais pessoas, pode ser mais solitário do que uma punheta. A morte é sempre solitária. Essa não tem como ser diferente. Mesmo em Aushwitz. Mesmo no Titanic. A morte, o desencarne, o esticar das canelas, o bater com as botas, o subir no telhado, o ir dessa pra melhor, é um ato da mais pura solidão. 

Nas mansões e nas favelas. Nas escolas e nos bares. No buxixo e no silêncio. Por todos os lugares. O que mais se vê, especialmente nas grandes concentrações humanas são as mais variadas formas de ser alone.

O que dizer então da sensação de estar num estádio de futebol lotado e, ainda assim, se sentir sozinho, incompleto? De estar cheio de barulho e estímulos visuais do lado de fora e uma escuridão surda por dentro? Quem nunca passou por isso? Quem nunca se sentiu como se lhe faltasse um pedaço de carne, um pedaço de alma?

E quanto a ter todas as mulheres do mundo aos seus pés e ninguém pra lhe acudir num pesadelo no meio da noite? Ser alvo de paparazzos nas ruas e ninguém pra lhe ouvir falar sobre seu dia na tranquilidade da sua casa? Ter uma família grande e barulhenta e morar a 900 kilômetros de distância? Ser a melhor cozinheira do mundo e ninguém pra te elogiar? Ter filhos e morar num asilo? Ter um orgulho muito maior do que um amor? 

São infinitas as formas pra uma mesma dor. 

Alguns se sentem mais, ou menos, confortáveis na presença da solidão. Ironias à parte, a presença da solidão implica diretamente na ausência de algo. Ou alguém. Ou 'alguéns'.

Nunca vou me esquecer de uma experiência que vivi há alguns meses atrás. Estava eu no alto de um edifício em plena Copacabana agitada num fim de tarde, espiando pela janela. Fiquei observando até que acabasse meu cigarro. Aquele caos típico do local. Muitos ônibus, a rua engarrafada, um táxi que parava no meio da pista pra um passageiro subir, um senhora que tropeçava, uma mulher cheia de sacolas, gente se cruzando sem se notar, um homem quase sendo atropelado, o sinaleiro que fechava e abria, as buzinas, um zigue-zague de cocorutos de cabeças e tetos de automóveis em passos apertados. Lembro de ter previsto: "Deus deve se sentir mais ou menos assim, como eu estou me sentindo agora!" Vendo de cima tudo é uma massa. Mas de perto, quem sabe onde mora sua solidão?  



(...)

domingo, 7 de março de 2010

Carta ao trouxa que vai dançar, porque EU PEGUEI O BUQUÊÊÊ!!!

Meu sol em gêmeos faz de mim impulsiva.
Meu elemento ar me faz sonhadora.
Minha lua também em gêmeos dispensa comentários.
E meu ascendente escorpião faz um monte de coisas que ainda to tentando descobrir se é responsabilidade dele mesmo.
Eu posso ser intolerante se você disser coisas que eu não gosto.
Mas eu sou a mais carinhosa das criaturas e sei fazer massagem.
Ás vezes eu me aventuro no fogão e meu macarrão de gorgonzola é divino.
Mas não me peça pra fazer costeletas de porco e arroz de brócolis.
Algumas noites eu falo enquanto durmo.
Outras eu choro um pouquinho antes de pegar no sono.
Mas se você me abraçar e enroscar seus pés nos meus tudo vai ficar mais leve.
A gente pode rezar baixinho.
Sou cheia de manias.
Durmo com a tv ligada ou leio até tarde debaixo da luminária.
Gaguejo e meu "leite quente" fica gritante quando fico nervosa.
Choro soluçando por qualquer coisa.
E você não precisa se irritar com isso.
Dá e passa.
Você pode falar de absolutamente tudo comigo.
Eu guardo segredos.
Eu também tenho os meus.
Seja meu amigo.
E não deixe nunca faltar assunto entre a gente.
Eu sou muito simples, por incrível que pareça.
Me faz feliz um passeio à beira mar ou uma Trakinas de morango.
Eu sei gritar.
E meu sussuro ao pé do ouvido é doce.
Eu posso parecer ciumenta e possessiva.
Talvez eu até seja mesmo.
Mas se você me fizer sentir protegida eu relaxo.
Adoro massagem nos pés e nos cabelos.
Mas detesto que desmanche meus cachos.
Também não me chame de Tatiane.
Tati pra você.
Também não faço rejeições à apelidos.
Eu gosto.
Mas não seja muito meloso, eu tenho preguiça.
Baby talk tem limite.
TPM? Ás vezes rola.
Você tenta me aguentar e eu vou entender quando você ficar puto se o seu time perder.
Eu adoro fazer surpresas.
Mas mereço recebê-las também, de vez em quando.
Minha flor preferida é a Gérbera.
Mas eu vou ficar muito feliz se você chegar com um botão de rosa.
Posso aprender a gostar das coisas que você gosta.
Se não rolar eu prometo ao menos respeitá-las.
Sua mãe pode gostar de mim.
Seu pai, seus irmãos, sua avó idem.
Eu posso ser antipática com as pessoas se eu perder a paciência.
E você pode me ensinar a fazer diferente.
Eu mudo de humor como quem troca de roupa.
E, entenda: isso não tem nada a ver com você.
Adoro lingeries, tenho umas ótimas.
E você não precisa me levar num restaurante caro.
Apenas me note.
Sou mais sexual do que sensual.
E posso te conquistar com meia hora de papo.
Ás vezes eu passo horas sem inspiração.
Mas eu também posso compor uma música pra passar o tempo.
Eu, normalmente, acordo de mal-humor.
E quando assim estou eu guardo ele no meu silêncio.
Você vai ter que respeitar isso.
Eu detesto toalha molhada em cima da cama.
Mas não ligo se passarmos dias sem arrumar a cama, pra podermos nos jogar nela a qualquer hora do dia, quando der vontade.
Você pode me xingar se eu agir feito criança.
Mas não me exponha aos nossos amigos.
Eu posso ficar saturada de você e não querer te ver durante uns dois dias.
Mas depois eu dou a volta ao mundo pra te agradar, se preciso.
Por mais que eu não fale isso o tempo todo, eu vou gostar de você do jeito que você é.
Sem tirar nem por.
Eu jamais me apaixonaria por alguém de quem eu não goste até dos defeitos.
E eu ainda não aprendi a dissimular.
Você vai saber se eu não estiver feliz.
Se você continuar implicando com meu signo eu vou te dizer que ser geminiana é muito pior do que conviver com uma.
Então ceda quando for sua vez.
Sou chata, mimada e sufocadora.
Faço perguntas demais.
Me de cinco cervejas e um motivo, se quiser ver o circo pegar fogo.
Mas se você me entender você pode até me amar.
Eu adoro praia.
Mas podemos alugar um filme e fazer pipoca se te der preguiça.
Eu posso ser egoísta vez por outra.
Mas eu nunca vou te deixar na mão.
A menos que você mereça.
Eu gosto de atenção.
Ou melhor, eu exijo-a.
Mas eu sei compensar sendo uma companhia agradável.
Eu saio do tom.
Mas eu posso acertar a nota, se você tiver um pouco de paciência.
Eu gosto muito de sexo.
Muito.
Mas se você estiver cansado você pode deitar no meu colo e me contar sobre o seu dia.
A gente pode conversar até pegar no sono.
Eu sou míope.
Mas eu vou enxergar nos seus olhos ou na sua voz se algo não estiver bem.
Não precisa vir num cavalo alado branco.
Mas me deixe ter acesso à você.
Não lhe prometo nenhum mar de rosas.
Mas eu tenho senso de humor, vamos nos divertir um bocado.
Eu quero ter filhos.
Dois.
Eu serei uma boa mãe.
Eu sei disso.
Mas eles também vão precisar muito de você.
Meu sexto sentido fala muito alto.
E ele diz que eu sou capaz de me fazer feliz e te fazer feliz.
Até quando Deus quiser.


terça-feira, 2 de março de 2010

Rio de Janeiro, 30 de fevereiro de 2010.


Hoje é dia 30 de fevereiro.

Normalmente é no dia de hoje que as dores cessam.
Nenhuma só lágrima é derramada. 
Ninguém sofre de amor.
Nenhuma pessoa querida vai embora.
E nenhuma lembrança dolorida nos passa pela cabeça.

É no dia de hoje que chove suco de morango.
Ninguém faz o que não tem vontade de fazer.
Os contos de fada saem dos livros.
O salário mínimo dobra de valor.
E todos os nossos sonhos se realizam.

Hoje nenhum político faz promessa falsa.
Nenhuma mentira é contada.
Nenhuma casa desaba.
Todas as crianças estão por perto.
E todas as pessoas do mundo têm mesa farta e cama aconchegante.

Hoje Cazuza faz mais uma das suas canções de amor.
A cura da AIDS e do Câncer é anunciada.
Os bichos não entram em extinção.
E todo o lixo do mundo se desintegra.

Hoje os pássaros de gaiola ganham liberdade.
Os carros não ultrapassam o limite de velocidade.
As mães estão com seus filhos.
Os problemas de matemática não são um problema.
E o céu é de um azul profundo.

É hoje que o amor das nossas vidas perde o medo.
A neve cai.
O chocolate é suiço.
O vinho é português.
A cama é quente.
E a língua não diz palavras.

Hoje as coisas são mais simples.
O que não nos serve é esquecido.
O que nos faz mal vai embora.
Ninguém fica doente.
E a felicidade finalmente mostra a sua cara.

No dia de hoje a natureza não se revolta.
Os sonhos são sublimes.
O Papa João Paulo II decreta a Paz Mundial.
As armas de fogo viram artigo de antiquário.
De nossas bocas só saem palavras de afeto.
E aos nossos ouvidos só as melhores músicas chegam.

É hoje que o mundo está mais feliz.
"Porque nós somos o mundo!"