quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Pra ela.


Então o que eu ia lhe dizer? Que você é linda? Que você não sabe o quanto é linda??? Você tem noção do desenho que sua boca tem? Um risco que começa no cantinho esquerdo, sobe, faz a curvinha debaixo do nariz, que daqui a pouco vou falar sobre ele, desce até o cantinho direito. Desce novamente, dessa vez de um traço mais arredondado, e sobe encontrando o cantinho esquerdo. Os olhos escuros como os cabelos cacheados. Pretos olhos, cabelos nem tanto. O que mais? Ah sim, o nariz!!! Mas que belo, belíssimo esse de quem vos falo. Arrebitado como o que. E por que ele se arrebita mais ainda quando você sorri mostrando sua coleção de dentes brancos e alinhados? E sua mãozinha fria feito meu coração. Você me deu um beijo de despedida e foi. Embora. Pra casa. E eu aqui. Tentando me lembrar o formato exato da sua sobrancelha. Que, da falta de coragem de te encarar melhor, não pude decorá-la. Fica pra próxima.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Versando.

 

Me dá um pedaço da Lua??
Eu fatio em pedacinhos.
E guardo o primeiro pra você.
O segundo também se lhe apetecer.
O terceiro não.
O terceiro é do moço que roubou meu coração.

Me dá um gole do mar?
Eu tomo de canudinho.
E faço bolhas pra te ver sorrir.
Recolho uma, duas ou três conchas.
Ou estrelas-do-mar.
Pra nos seus cabelos pendurar.

Mé dá um teco de terra?
Eu faço nela um buraco.
Planto uma muda da mais vermelha das gérberas.
Rego, adubo e até converso com ela.
E, se você vier.
Um dia brincarmos de bem-me-quer.

Me dá um tanto do seu amor?
Nem pedaço, nem gole, nem teco.
Ele por inteiro.
Sem faltar fresta ou buraco.
Nem um triz.
Que é pra eu poder ser feliz.


terça-feira, 21 de setembro de 2010

Do que encanta.


Um Renoir me faz lembrar de um sonho que eu tinha. Eu queria morar em algum lugar do interior da Europa. Trabalharia em um museu durante o dia. A noite eu iria cuidar do Pub que seria meu. Ou então eu teria um desses Cafés pequenos. Um bistrô. Eu sairia agasalhada de cachecol, luvas e gorro. Andaria na neve quando tivesse neve. E de bicicleta sob o Sol quando fosse a estação dele.

Um Saramago me faz lembrar o dia que deixei de acreditar de vez na Bíblia. Da transformação que uma das suas obras provocou em mim.

Teatro me lembra o que eu sou. Cinema me lembra o que eu quero ser.

Música. Música me lembra da infância. Outra me lembra de um amor da adolescência. De um dia na praia. De um ano novo em Floripa. De um carnaval em Guaratuba. De um dia. De uma noite. De algumas lágrimas. De um medo. Do meu irmão. Da minha cochorrinha. De uma amiga que mora longe. De um show no Circo. De uma novela que eu gostava. De um apartamento que eu morei. Do jardim da minha antiga casa. Do inverno da minha cidade. Do parque. Das viagens longas de carro com minha familia. Do meus avós de cabeça branca. Das férias de verão na casa de praia. Da geada na grama nas manhãs de inverno. Do mesmo sabiá cantando todos os dias. Da coreografia criada com as amigas no salão de festas do prédio. Da rotina da escola. De algum lugar que ainda não fui. De uma pessoa que ficou pra trás. De alguém que eu fui e não sou mais. De alguma coisa que eu queria e não quero mais.

Música faz rir. Faz chorar. Diz tudo o que a gente quer dizer e não acha palavra. Música declara. Exorciza. Relembra. Dá saudade. Causa tristeza. Belisca no peito. Agrada o ouvido. Acalma a alma. Ferve o sangue. Balança o corpo. Consola ou afoga de vez. Acompanha o pileque. Faz virar os olhos. Arrepia. Arrebenta nossas cordas vocais. Dá paz. Faz companhia. 

Todas as artes chegam de alguma forma. Mas nada se compara à música. Só ela chega em todos os lugares do mundo. O sujeito lá nas cucuias do sertão pode nunca ter lido um livro sequer na vida, ou visto uma obra de arte, mas música ele sabe cantar. Música é de todo mundo pra todo mundo. Música deve ser muito parecida com Deus.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Pessoas normais.



Pessoas normais enxergam o mundo quando acordam. Não usam óculos.
Pessoas normais almoçam fora 1 vez por semana. Ou duas.

Pessoas normais trabalham X horas por dia e recebem seu salário todo fim de mês.

Pessoas normais namoram. Às vezes casam. E em algumas vezes até têm filhos.
Pessoas normais conhecem o Parque Lage. Já viram pelo menos uma partida no Maracanã. E tomam água de côco.

Pessoas normais acordam cedo durante a semana e folgam no domingo.

Pessoas normais visitam os parentes nos sábados à tarde. E tomam sorvete de creme.
Pessoas normais gostam de pudim de leite. E fazem a cama ao se levantar.
Pessoas normais não têm um furo na língua. Não roem cutículas. E penteiam os cabelos.
Pessoas normais rezam antes de dormir.

Pessoas normais não ouvem a mesma música um cento de vezes no mesmo dia.
Pessoas normais não arrumam confusão. E não se penduram em panos.
Pessoas normais riem querendo chorar. E gozam em silêncio.

Pessoas normais usam sacola plástica. Andam de táxi. E gostam de falar ao telefone.
Pessoas normais tiram férias. E fazem dieta.
Pessoas normais falam outra língua. E sabem jogar Sudoku.
Pessoas normais não ficam tristes no Natal. E não têm medo do mar.

Pessoas normais vão ao cinema com frequência. E fazem compras do mês no mercado.

Pessoas normais vivem com quem amam.

Pessoas normais não desviam dos outros na rua. E não dormem agarradas ao travesseiro.
Pessoas normais não mudam de humor como quem troca de roupa. E desconhecem solidão.

Essas pessoas não reparam quando eu passo.



domingo, 5 de setembro de 2010

Ciúmes.


Ele vem.  
Danado.
Eu não te chamei.
Eu queria que um buraco no chão se abrisse e o engolisse. Por completo.
Ou que você queimasse na própria chama.  Que sumisse.
E me deixasse em paz. Pra sempre.
Que fosse embora de vez pra que eu finalmente entendesse que você é inútil.
E que o mundo é do tamanho do mundo.
Mas que você não pode ser mais do que uma petit-poá no meu dia.  
Danado.
Suma.
Suma da minha vida.
Eu não tenho nada a lhe oferecer e a mim você só traz angústia.
De você eu quase morro.
Por sua causa eu peno.
Não leve meu sono embora mais uma vez.
Não roube mais o meu sossego.
A não ser que você tenha algo muito mais valioso que minha paz pra me oferecer em troca.
Tem? Você vem?
Como te cala?
Onde fica seu botão off?
Você é um soco no estômago. Na boca dele.
Um frio na barriga sem tesão.
Um arder nos olhos sem paixão.
Uma tristeza dolorida.
Um arrepio quente.
Uma força física.
Eu não gosto de você. Eu não conto com você. Eu nada conto pra você.
E eu não te gosto por aqui.
Deixei a janela aberta.
Trate de sair.