segunda-feira, 30 de julho de 2012

Mais tempo.



O Homem-de-Lata pede coração, o Espantalho quer um cérebro, o Leão precisa de coragem e a Dorothy não vê a hora de voltar pra casa. Se eles tivessem me encontrado no meio do caminho da estrada de tijolos amarelos na direção do Mágico, eu teria ido até o destino dessas personagens pra pedir... Mais tempo! 

Mais tempo pra viver as risadas. Mais tempo pra viver os amores, mesmo que nas suas formas mínimas. Mais tempo pra conhecer o mundo e outros mundos. Mais tempo pra dançar. Mais tempo pra chorar. Mais tempo pra dormir. Mais tempo pra conhecer gente e pra essa gente me conhecer.

30 anos se passaram e minha pele guarda o que minha memória não pode alcançar. Se existem 7 bilhoes de pessoas no mundo, quantas podemos conhecer até o final de nossas vidas? Se existem 200 países, em quantos vamos pisar? Se existem 100.000.000.000 de galáxias no universo, quantas delas nossos olhos vão registrar através da luneta? Isso sem falar nas verdades e mentiras, nos mitos, nas piadas e nas bobagens que não vamos desvendar e nem presenciar por simples falta de tempo! 

Quero mais horas no meu dia e mais dias nas minhas horas, mais amor no meu sexo e mais vida no meu amor. Mais minutos pra memória não se perder, mais lembrança na saudade, mais refeições para mais companhias. Mais tempo pra ser loira, vermelha ou preta. Mais tempo pra amar mais gente e odiar outras tantas e/ou ser amada e desprezada por poucas ou muitas. Mais tempo pra reclamar da conta que eu atrasei ou pra comemorar um chute no gol. Mais tempo pra representar e pra dizer meia dúzia de verdades. Mais tempo pra ver o tempo passar. 

Se eu não gosto de fígado acebolado e idolatro chocolate é pura falta de tempo de experimentar outros sabores até decidir ou não decidir qual preferir pro resto da minha vida que, por sua vez, teria um tempo maior.  

Mais tempo pra não ter tempo.

Mais tempo! Mais tempo!

E não me venha com míseros minutos que a minha paciência é atemporal.


sexta-feira, 13 de julho de 2012

Fim do (meu) mundo.




Poucas ou muitas pessoas sabem. Poucas talvez viram. Muitas com certeza já ouviram falar. Eu não vejo a menor graça em voar. Sim, eu tenho medo de avião. Tenho medo que o mundo finde no ar. Que o meu mundo acabe no ar. Ou no chão. Ou no mar. Todas as vezes em que me encontro a milhas e milhas do solo e pra distrair meu pânico, eu penso na vida que eu não vivi. No filho que eu não gerei. No segundo que eu não adotei. Na música que eu não dancei. Ou na que eu gostaria de dançar novamente. Nas minhas rugas que ainda não amadureceram. Penso que não! Aquela não pode ter sido a última vez que vi meus amigos. A última vez que abracei minha família. A última vez que vi o dia nascer na turva embriaguez. Eu me viro e vejo que na cadeira ao lado do avião não existe um amor em forma de pessoa pra mim. Então, num descuido, eu me vejo abraçando e chorando e declarando meu amor a um desconhecido de cabeça chata. Só pra não me sentir sozinha e desamada no meu fim do mundo. No fim do meu mundo. A morte deve ser alguma coisa muito perto da solidão absoluta. Pode se morrer junto com uma multidão, ou sozinho, mas cercado de gente. Seja como for, a morte sempre me pareceu algo muito pessoal, solitário e egoísta. Morrer deve ser um abismo sem fim na direção do vazio.

Eu tenho certeza absoluta que minha existência nessa existência não acabará dentro de uma caixa em formato fálico com asas, feita de ferro e plástico e pesando toneladas que (ultrapassando a minha inteligência) voa distancias em minutos. Mas a certeza de onde e quando e como eu vou nascer em outra dimensão, essa eu não tenho. Ignoro. Não vejo. E juro. Não penso. O único momento da minha vida em que me questiono sobre isso é quando estou voando. Não sei se porque fico mais perto do céu. Não sei se porque não consigo dormir. Não sei se porque não tenho nada a fazer. Ou se isso se trata simplesmente de medo. Então o medo se concretiza pra mim em forma de uma cadeira vazia que deixarei na mesa do jantar. Medo de deixar de existir. Hoje eu sou um ser único. Com características únicas. Físicas. Pessoais. Emocionais. Um dia eu me tornarei o que todo mundo se tornará: um saco de ossos e carne. Sem vida. Sem alma. Pra todo o sempre. Existirei apenas na lembrança de alguns até que se finde também o mundo desses. Então sou pessoa que se tornará saudade até virar esquecimento.

E você também.