“Nós ficaremos em cartaz aqui, sempre de quarta à domingo,
às 19h. até o dia 19 de dezembro. Se gostaram, por favor, indiquem, se não gostaram
não precisa nem dizer que saiu de casa!” E assim, de quarta a domingo, encerrávamos
o espetáculo A Garota do Biquíni Vermelho.
E dia 19 de dezembro se fez presente. O dia do fim chegou. A
frase final teve que ser mudada, afinal, não terá mais espetáculo de quarta a
domingo. Quem viu, viu. Quem não viu, por sua vez, não viu. E nós encerramos o
nosso expediente no teatro Sesc Ginástico.
Durante os ensaios fortes emoções me acometeram. Teste, assalto, conjuntivite. Durante dois meses de temporada tivemos de um tudo. Atrizes doentes,
desavenças, algumas fofocas, um tanto de preguiça, um bocado de amizade. Algum
amor e um pouco de ódio pra temperar. Por vezes desejei a chegada desta
presente data, devido ao meu cansaço, devido à muita coisa que, por hora,
prefiro digerir e manter comigo ao invés de publicar. Mas com a data do
fim vem junto, como não podia deixar de ser, uma sensação de vazio e, ao mesmo
tempo, de dever cumprido. Finda-se esse ciclo. Mais um que se encerra na minha
vida. No exato momento em que um buraco se abre sob meu pés, um caminho se abre
diante dos meus olhos. Ando a aprender que ciclos se encerram pra que outros
comecem. O meu se encerra hoje, junto com o fim do ano, junto com o fim de uma
década.
Mas antes de ele se encerrar muitas coisas aconteceram. Coisas
nada relevantes. La no inicio eu aprendi a me relacionar com uma diva. Mais do
que isso, eu fui dirigida por uma diva. Marília Pêra. Na minha boca foi colocado
o texto de Artur Xexéo (que na data de hoje publicou um texto lindíssimo sobre a gente , sem esquecer de niguém: http://oglobo.globo.com/cultura/xexeo/posts/2010/12/19/adeus-garota-349433.asp.) Na plateia me assistindo e me aplaudindo no final nomes
como: Regina Duarte, Miguel Falabella, Arlete Sales, Claudio Botelho, Sérgio
Britto, Ney Latorraca, Antônio Fagundes, algumas de nossas queridas vedetes e
por último, mas não menos importante, Fernanda Montenegro. Entres outros, que não
terei a capacidade de me recordar de cada um. Mas isso tudo passou muito longe do dito
Glamour.
Trabalhamos incansavelmente de segunda a segunda, durante os
ensaios e 5 vezes por semana durante a temporada. Porque o glamour pode estar
nas revistas, mas na vida real o buraco é bem mais embaixo. Estamos expostos o
tempo todo, sujeitos a qualquer tipo de olhar, mexemos com nossas emoções todos
os dias, precisamos estar sempre com saúde mental e física pra um bom
resultado, improvisar caso aconteça algo que não estava no script, relevar
qualquer coisa de destrutiva que possa ser dita, e se cair, levantar, sacudir a
poeira e dar a volta por cima.
Ufa!
E eu não poderia deixar jamais de dizer que nesse trabalho
eu fiz amizades que levarei comigo para todo o sempre. Conheci e reconheci
pessoas incríveis que eu considero agora parte da minha família carioca. Amei muito
cada um deles, me apaixonei muito por todos eles. Todos os que dividiram cena
comigo e todos os que ficaram atrás das cortinas se desdobrando em mil pra que estivéssemos
lindas no salto. Amei muito todos. Mas uma pessoa em especial.
Meu pai bem me mandou estudar pra ser médica. Mas mal sabe
ele que eu estudo todos os dias pra continuar vivendo e sobrevivendo da profissão
que eu escolhi.
Agora que acabou, acabou. E se acabou é porque vem outras
coisas pela frente. E é só mais um dos ciclos que começaram e se encerraram esse
ano pra mim. Eu tenho vontade de chorar. E eu choro. Porque meu ascendente
Escorpião é agua. E eu sou filha de Iemanjá. Muita água vai desabar ainda
desses olhos. Acostumem-se ou abandonem-me.
Entrando em 2011 sem trabalho, sem casa, mas com muita
esperança no coração.