segunda-feira, 11 de abril de 2011

Saudades de Deus.


E pensar que Ele morava em muitas e em todas as coisas mais simples. Na água gelada da bica do parque. Na grama branca de geada pela manhã. No canto do sabiá todos os dias na mesma hora. No sorvete de chocolate com coca-cola. Na árvore de Natal. A medida em que fui ganhando altura e idade desentendi as coisas pequenas. E passei a procurá-Lo nas coisas maiores. Na metrópole que não para. No mar que eu tenho medo. E Ele passou a não me fazer mais companhia nos minutos que antecedem meu sono. Com as mãos juntas, olhos fechados e muita fé. Quantas vezes devo ter dormido antes mesmo de dizer o Amém. Sem ser condenada por isso. E agora. Eu não o encontro nas coisas grandes. Porque as coisas pequenas essas já não existem mais. 

Me lembro de ler num romance onde a protagonista é uma menina de 6 anos, muito doente e prestes a morrer. Um anjinho vem lhe fazer companhia nos seus últimos dias e os dois decidem trocar sensações e informações sobre ser humano e ser anjo. Foi onde eu tive a melhor explicação sobre a história de Adão e Eva:

“Quando Deus criou Adão e Eva, eles eram crianças curiosas que trepavam às árvores e corriam pelo jardim do Paraíso que tinha sido acabado de criar. Não faria qualquer sentido possuir um amplo jardim, se as crianças não pudessem brincar lá. A serpente convenceu-os, então, a comer frutos da árvore da Sabedoria e eles começaram a crescer. Quanto mais comiam, mais adultos se tornavam. Foi assim que, gradualmente, eles foram expulsos do paraíso da infância. Aqueles marotos estavam tão sedentos de sabedoria que acabaram por abandonar o paraíso.”

O paraíso era o simples. O não questionado. O acreditável. A brincadeira. O pequeno. E talvez a ignorância.

 Era isso. Simples assim. Deus existe na infância. E hoje eu tenho saudades de Deus.