domingo, 27 de dezembro de 2009

Rio pra que te quero!

Eu saí de casa aos 20. Casei, descasei. Mudei de casa várias vezes desde então. Já trabalhei em livraria, Pub, animei festa infantil, fiz novela, eventos, drinks, backstages, comercial, cinema, coach, door de bar, etc, etc... Já ri, chorei, namorei, desnamorei, briguei, tomei torrão, faxina em casa, porres, samba, chuva, praia (quando o mar não tá nervoso, desse ainda não perdi o medo) . Mas a melhor de todas as coisas que já fiz fui sair da minha cidade. Não que eu não goste. Eu amo! Mas sinto que não caibo mais nela. Não me identifico mais, não me vejo mais. Às vezes observo de fora e tenho a leve impressão de ter evoluído anos-luz, enquanto algumas coisas ali continuam iguais. Eu fico feliz por saber o quanto sair daqui me fez bem, em todos os sentidos. Sei que o Rio me transformou numa pessoa mais alegre, mais bonita, mais esperta e mais independente. Eu era uma menina meio caipira quando cheguei lá. Uma branquelinha que usava biquíni grande e não falava com estranhos. Aos poucos fui olhando as coisas de outra forma. Me adaptando, me conhecendo, aprendendo. E hoje sei que fisicamente, mentalmente, emocionalmente e intelectualmente nunca estive melhor. Mas ainda falta. E muito.
Mas ao mesmo tempo fico triste em perceber que algumas coisas e, principalmente, algumas pessoas na minha terra não mudam. É muita ingenuidade acreditar que não vamos mudar. Você até pode estagnar, se assim lhe for mais confortável, mas o crescimento exige mudanças. Se não mudarmos formas de pensar e de agir, não sairemos do lugar. Aos poucos. Eu mudei aos poucos. E sei que ainda vou mudar muito. Pra melhor. É o que eu busco.
Minha fitinha azul de Nosso Senhor do Bomfim ainda continua no meu tornozelo direito. Puída. Logo, logo, quando eu menos esperar ela não estará mais ali. Eu sou meio cética com essas coisas, mas acreditei tanto nos meus três pedidos que acho que de repente ela pode fazer alguma coisa por mim e pelas pessoas em quem pensei fazendo os nozinhos. Assim espero.
Agradeço a mim e a minha fé pela decisão que tomei há 6 anos e meio atrás, quando eu peguei meu falecido Kazinho e parti pela estrada rumo ao Rio de Janeiro. O Rio é um caos, é um calor da porra, as pessoas de lá não se comprometem com amor ou amizade, mas eu caibo direitinho nele. (90% dos meus amigos do Rio não são do Rio, mas outra hora eu disserto sobre isso).
Essa mini-temporada em Curitiba me fez ver coisas que eu precisava. A primeira delas é que minha cidade de nascença é uma delícia, meus amigos fiéis continuam fiéis, minha família continua uma festa, mas pra cá só venho com data pra ir embora. Fiquei feliz por mim. Fiquei triste por muita gente. E agora só quero voltar pra minha casa, que é minha. Daquele jeito que eu gosto, daquele cheiro bom, daquela atmosfera gostosa e aconchegante que só a casa da gente tem.
Rio, to voltando. Curita, nos vemos em março, no Festival de Teatro de Curitiba, que desse sim, eu tenho saudades. Matarei logo, logo minha abstinência de palco!
E que Deus, seja lá quem ele (ou ela) for sempre me apoie nas minhas decisões. Porque nós somos responsáveis por nossas escolhas.
Até agora tudo certo. Nenhum arrependimento.
"O tempo faz tudo valer a pena e nem o erro é desperdício."

domingo, 20 de dezembro de 2009

EU TE AMO!




Depois de ter criado todo o universo e sentindo-se solitário, sem ninguém nem pra colocar defeitos na sua imensurável invenção, Deus resolveu criar o homem. Ainda insatisfeito e no intuito de se divertir um bocado, Deus, então, criou o amor. O homem, inebriado com aquela nova sensação, não se deu conta que entrava num caminho sem volta.

(...)




Eu tinha uns 12. Talvez sequer tinha experimentado um beijo de língua. Fábio era o nome dele. Nem me dava muita moral. Por ser repetente, me considerava uma pirralha. Era meio malandro, vivia sendo suspenso, colocava apelido nos professores, escrevia palavrões no quadro negro a cada intervalo de aula. E era gato. Muito gato. E eu, só uma menina que escondia a timidez atrás dos óculos de grau. Sinceramente, não tenho idéia do porquê, só sei que de repente ele me olhou diferente. Me escreveu um bilhete. Implicava comigo. Me elogiava. Foi o primeiro ser do sexo oposto que me deixou sem-graça. Um dia, ao final da aula, havia um burburinho muito grande na porta de saída do colégio. Vieram me buscar. Me levaram até o viaduto que ficava ao lado do colégio. A escola inteira estava lá. Eu fui, sem entender nada. Nada. As pessoas diziam "É pra você! O Fábio fez pra você!" Nada. No curto caminho da escola até o viaduto, eu não entendia nada. Quando cheguei todos ficaram me olhando, cometando. E nada. Eu não entendia. Até que olhei pra parede recém-pintada de cinza e reclinada debaixo do viaduto. Em letras garrafais, pixadas em preto, as 3 palavras: TATI TE AMO. 10 segundos sem ar. 10 segundos sem chão debaixo dos meus pés. Ele tava lá. O que eu fiz? Pulei no seu pescoço??? Não. Absolutamente. Só consegui virar as costas e correr até o ponto de ônibus. Fui pra casa. A sensação que eu sentia era de medo. Muito medo!! Aquilo era muito novo pra mim e eu tinha medo!! (Eu era inteligente e não sabia!) Só sei que fugi daquilo. Pra sempre. Nós nunca ficamos. Todas as vezes que alguém tocava no assunto eu, prontamente, mudava o rumo da prosa. Todas as vezes em que eu passava debaixo daquele viaduto, de carro ou de ônibus, eu olhava praquelas 3 palavras. Com medo. Aos poucos eu vi outras palavras e desenhos sendo acrescentados ali. Outras pixações, outras inspirações. E quanto mais eu via aquelas palavras desaparecerem, mais aliviada eu me sentia. Eu gostava dele. Eu sonhava com ele. Meu coração acelerava por ele. Mas eu nunca tive coragem. Se eu me arrependendo? Às vezes. Mas tão às vezes quanto quando eu penso que deveria ter continuado com medo. Assim eu jamais teria vivido as tristezas recorrentes. Mas também nunca saberia a delícia e a sensação indescritível que é a de amar e ser retribuida na mesma intensidade. O ser humano é movido pelo sentimento, seja ele de ódio, tristeza ou amor. Meu amor não muda. Eu nunca esperei por uma declaração impressa nos muros ou numa jóia 18 quilates. Também não acredito em príncipes e nem em fidelidade vitalícia. Eu acredito na velocidade do meu batimento cardíaco. E já que eu entrei nesse caminho sem volta, mesmo tendo resistido na primeira oportunidade, eu não tenho saída. O que eu espero disso tudo? Que o outro compreenda o meu amor. E só.

(...)

Embora eu saiba que, nos dias de hoje, seria mais fácil esperar pela jóia.

(...) 

domingo, 13 de dezembro de 2009

Don Corleone.

O agressor de Silvio Berlusconi não tem antecedentes criminais, mas indica "possíveis problemas mentais".


Revolta agora tem outro nome...


sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Ensaio sobre o futuro.


Creio que, pelo menos, nas últimas três décadas que antecederam a virada do milênio, vivemos as delícias de idealizar os anos 2000. Em todos os países, em todos os idiomas, em todos os degraus da pirâmide social, de norte a sul, dos olhos puxados ao país tropical, do hasta ao chucruti, de onde o sol nasce quadrado às margens do Mar Morto, de cima das corcovas dos camelos aos iglus, todos se perguntavam que diabos aconteceria com o mundo quando, no dia 31/12/1999, o relógio batesse a décima segunda badalada. Uns acreditavam no fim do mundo, outros tantos no Bug. Carros voadores, viagens de férias à Lua, máquina do tempo e do teletransporte, ser vizinho dos Jetsons, pouco importa, o fato é: todos, sem exceção, acreditávamos em alguma coisa, qualquer coisa, relativa ao início de um novo século e, principalmente, à virada do milênio. Mas, para os nascidos no aclamado ano de 1982, além de todas essas coletivas especulações, havia algo ainda mais relevante: completaríamos 18 anos no exato ano de 2000. Entraríamos o novo milênio com a maioridade. Iniciaríamos um novo século com carteira de habilitação no bolso e sem mais migué nos seguranças em porta de boate. Seríamos livres num mundo novo. Donos do próprio nariz numa outra dimensão. E tudo indicava um futuro promissor. Democracia no Brasil, unificação da Alemanha,  a informação, CD e DVD, o impeachment, a internet, o Tetra, o celular, a ovelha Dolly, o  movimento pop, enfim... tava tudo certo! Rumávamos à tempos inesquecíveis. O mundo era nosso. De ante-mão, o mundo era nosso por merecimento, afinal, nascemos em 82, faz as contas!! Sairíamos de um velho milênio, do qual não nos interessava mais, abandonaríamos uma fase do nosso desenvolvimento, da qual, também já não nos instigava interesse há alguns anos e atravessaríamos um portal sem direito a volta. (não que nos fosse dada essa opção. Mas mesmo que fosse!) Ai, ai... Contávam... Bom, EU, pelo menos, contava os dias. Que privilégio! Início de um século novo, virada pra outro milênio, maioridade. Cortaríamos o cordão umbilical da adolescência, da dependência e do passado. Seríamos testemunhas oculares de uma nova era. Entraríamos em dois mundos desconhecidos de uma só vez: o do futuro e o da maturidade. E nos sentíamos capazes!

(...)                                                                                                                                                       


No entanto, cá estamos nós, bebês de 82, crianças da década de 80, adolescentes da década de 90 e emancipados pela virada do milênio. E, prestes a adentrar o ano de 2010, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 2010, ainda não vimos o mundo acabar, não temos carros voadores (eu sequer tenho um com rodas!), a máquina do tempo, por enquanto, só nas ficções e as dúvidas em relação a veracidade da chegada do homem na Lua ainda pairam no ar. A cura da Aids ainda não foi revelada, a do câncer muito menos,  seres  tão humanos  quanto nós ainda comem nosso lixo, pessoas ainda são discriminadas pela raça, classe e preferência sexual, dinheiro público continua sendo desviado gerando fome e analfabetização, muito mais lixo no mundo do que ele é capaz de suportar, guerras por dinheiro, guerras por religião, guerras por drogas, guerras por guerras, aquecimento global, intolerância, violência, desamor. Nem Chapolin Colorado numa hora dessas pra nos defender. E maioridade vira sinônimo de orfandade. Ficamos órfãos dos nossos próprios sonhos. Caímos do cavalo. Balde de água fria. Brochamos. Orelha de burro. L de loser. Nos fudemos de verde-e-amarelo. Ficamos a ver navios. Desilusão, danço eu, dança você. Mas também pudera, ninguém nunca nos disse que não podíamos acreditar nos filmes de ficção e que o Dr. Brown era só um personagem inventado por mais uma dessas cabecinhas iludidas com os anos 2000. E pros nascidos em 82 uma dupla decepção, porque também nunca ninguém nos disse que ser adulto é um saco e que as contas chegam todos os meses, sem exceção!!! Devíamos tomar uma providência!

(...)

E que venham os anos 3000. Atcha! Bendito 1982 que não me permitirá chegar lá.

(...)

Mas pode ser que a qualquer momento alguém revele ter descoberto a fórmula de congelar humanos e fazê-los ressucitar anos mais tarde. Aí poderemos nos sujeitar a essa experiência inovadora e nos decepcionar mais uma vez com nossas próprias projeções!!!




(...)

Quem sabe, ainda há uma esperança!        

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Quando a consciência nao vê.




Os botões do controle remoto brilham no escuro. Mas e se ninguém tiver olhando, eles continuam a brilhar? As árvores de Natal com seus pisca-piscas, as bolinhas de gás no refrigerante, os dentes-de-leão e as partículas de poeira boiando no ar, eles acontecem quando nenhum olho os observa, quando nenhum ouvido apurado capta seu som surdo, quando nenhum tato sente seu movimento, quando nenhum olfato sensível quase sente seu gosto, quando nenhum paladar percebe sua textura, quando nenhuma intuição o prevê????


Fico me perguntando às vezes se não é a consciência que torna as coisas reais. Se não houver uma mente consciente observando todas essas coisas, será que, ainda sim, elas continuam a sua ação? Os sorrisos das fotografias continuam incansáveis mesmo na escuridão da gaveta? A música das cachoeiras, os desenhos nas nuvens, as estrelas cadentes... só existem porque somos capazes de percebê-los, ou existem e simplesmente existem?????


E a respeito do amor? Continua o sendo mesmo que recluso? O amor ainda é amor mesmo se não posto em prática???


Essas palavras permanecerão aqui mesmo que ninguém nunca as leia??