Eu saí de casa aos 20. Casei, descasei. Mudei de casa várias vezes desde então. Já trabalhei em livraria, Pub, animei festa infantil, fiz novela, eventos, drinks, backstages, comercial, cinema, coach, door de bar, etc, etc... Já ri, chorei, namorei, desnamorei, briguei, tomei torrão, faxina em casa, porres, samba, chuva, praia (quando o mar não tá nervoso, desse ainda não perdi o medo) . Mas a melhor de todas as coisas que já fiz fui sair da minha cidade. Não que eu não goste. Eu amo! Mas sinto que não caibo mais nela. Não me identifico mais, não me vejo mais. Às vezes observo de fora e tenho a leve impressão de ter evoluído anos-luz, enquanto algumas coisas ali continuam iguais. Eu fico feliz por saber o quanto sair daqui me fez bem, em todos os sentidos. Sei que o Rio me transformou numa pessoa mais alegre, mais bonita, mais esperta e mais independente. Eu era uma menina meio caipira quando cheguei lá. Uma branquelinha que usava biquíni grande e não falava com estranhos. Aos poucos fui olhando as coisas de outra forma. Me adaptando, me conhecendo, aprendendo. E hoje sei que fisicamente, mentalmente, emocionalmente e intelectualmente nunca estive melhor. Mas ainda falta. E muito.
Mas ao mesmo tempo fico triste em perceber que algumas coisas e, principalmente, algumas pessoas na minha terra não mudam. É muita ingenuidade acreditar que não vamos mudar. Você até pode estagnar, se assim lhe for mais confortável, mas o crescimento exige mudanças. Se não mudarmos formas de pensar e de agir, não sairemos do lugar. Aos poucos. Eu mudei aos poucos. E sei que ainda vou mudar muito. Pra melhor. É o que eu busco.
Minha fitinha azul de Nosso Senhor do Bomfim ainda continua no meu tornozelo direito. Puída. Logo, logo, quando eu menos esperar ela não estará mais ali. Eu sou meio cética com essas coisas, mas acreditei tanto nos meus três pedidos que acho que de repente ela pode fazer alguma coisa por mim e pelas pessoas em quem pensei fazendo os nozinhos. Assim espero.
Agradeço a mim e a minha fé pela decisão que tomei há 6 anos e meio atrás, quando eu peguei meu falecido Kazinho e parti pela estrada rumo ao Rio de Janeiro. O Rio é um caos, é um calor da porra, as pessoas de lá não se comprometem com amor ou amizade, mas eu caibo direitinho nele. (90% dos meus amigos do Rio não são do Rio, mas outra hora eu disserto sobre isso).
Essa mini-temporada em Curitiba me fez ver coisas que eu precisava. A primeira delas é que minha cidade de nascença é uma delícia, meus amigos fiéis continuam fiéis, minha família continua uma festa, mas pra cá só venho com data pra ir embora. Fiquei feliz por mim. Fiquei triste por muita gente. E agora só quero voltar pra minha casa, que é minha. Daquele jeito que eu gosto, daquele cheiro bom, daquela atmosfera gostosa e aconchegante que só a casa da gente tem.
Rio, to voltando. Curita, nos vemos em março, no Festival de Teatro de Curitiba, que desse sim, eu tenho saudades. Matarei logo, logo minha abstinência de palco!
E que Deus, seja lá quem ele (ou ela) for sempre me apoie nas minhas decisões. Porque nós somos responsáveis por nossas escolhas.
Até agora tudo certo. Nenhum arrependimento.
"O tempo faz tudo valer a pena e nem o erro é desperdício."