sexta-feira, 13 de julho de 2012

Fim do (meu) mundo.




Poucas ou muitas pessoas sabem. Poucas talvez viram. Muitas com certeza já ouviram falar. Eu não vejo a menor graça em voar. Sim, eu tenho medo de avião. Tenho medo que o mundo finde no ar. Que o meu mundo acabe no ar. Ou no chão. Ou no mar. Todas as vezes em que me encontro a milhas e milhas do solo e pra distrair meu pânico, eu penso na vida que eu não vivi. No filho que eu não gerei. No segundo que eu não adotei. Na música que eu não dancei. Ou na que eu gostaria de dançar novamente. Nas minhas rugas que ainda não amadureceram. Penso que não! Aquela não pode ter sido a última vez que vi meus amigos. A última vez que abracei minha família. A última vez que vi o dia nascer na turva embriaguez. Eu me viro e vejo que na cadeira ao lado do avião não existe um amor em forma de pessoa pra mim. Então, num descuido, eu me vejo abraçando e chorando e declarando meu amor a um desconhecido de cabeça chata. Só pra não me sentir sozinha e desamada no meu fim do mundo. No fim do meu mundo. A morte deve ser alguma coisa muito perto da solidão absoluta. Pode se morrer junto com uma multidão, ou sozinho, mas cercado de gente. Seja como for, a morte sempre me pareceu algo muito pessoal, solitário e egoísta. Morrer deve ser um abismo sem fim na direção do vazio.

Eu tenho certeza absoluta que minha existência nessa existência não acabará dentro de uma caixa em formato fálico com asas, feita de ferro e plástico e pesando toneladas que (ultrapassando a minha inteligência) voa distancias em minutos. Mas a certeza de onde e quando e como eu vou nascer em outra dimensão, essa eu não tenho. Ignoro. Não vejo. E juro. Não penso. O único momento da minha vida em que me questiono sobre isso é quando estou voando. Não sei se porque fico mais perto do céu. Não sei se porque não consigo dormir. Não sei se porque não tenho nada a fazer. Ou se isso se trata simplesmente de medo. Então o medo se concretiza pra mim em forma de uma cadeira vazia que deixarei na mesa do jantar. Medo de deixar de existir. Hoje eu sou um ser único. Com características únicas. Físicas. Pessoais. Emocionais. Um dia eu me tornarei o que todo mundo se tornará: um saco de ossos e carne. Sem vida. Sem alma. Pra todo o sempre. Existirei apenas na lembrança de alguns até que se finde também o mundo desses. Então sou pessoa que se tornará saudade até virar esquecimento.

E você também.



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