domingo, 12 de julho de 2009

Grrrrrrrrrrrrrrrrrrr...


Quando eu tinha 14 anos e era só uma menina feia de óculos e aparelhos nos dentes, estudante da oitava série de um colégio público em Curitiba, eu descobri como podem ser chatos os meninos. Menino é chato! Menino só fala de futebol, arrota e diz palavrão. Meninos eram estranhos, eu não gostava de muita proximidade. Até paquerava um de vez em qd, mas sempre preferia ficar no platônico mesmo porque se o menino descobrisse que eu era afim dele ele ia rir da minha cara. Meninos definitivamente eram muito estranhos. Mas tinha um em especial por quem eu nutria uma raivinha incontrolável. Ele se chamava Fábio. Loiro de olhos azuis, uma napa no lugar do nariz, tinha o cabelo tão comprido quanto o meu, era Coxa Branca doente e me irritava mais do que qualquer coisa nesse mundo. Ele falava alto na sala de aula, se sentia o melhor do mundo só porque uma menina mais feia do que eu da nossa sala era declaradamente apaixonada por ele, zoava todo mundo, enfim, o próprio "piá de prédio"! A gente se declarou guerra! Um dia, estava eu no pátio do colégio com minhas amigas, distraída, quando aquele fedelho veio por trás de mim e puxou meus cabelos com toda a força do mundo e saiu correndo. Deixei passar porque eu não ia ficar correndo atrás daquele inútil. Mas na semana seguinte quando ele também estava no pátio, no recreio, eu tratei de devolver a agressão na mesma moeda. E assim se seguia nosso desamor. Até que um belo dia, numa sexta-feira, me lembro bem, na aula de Educação Física, o imprestável estava na quadra jogando futebol, que era só pra isso que aquele cérebro funcionava. Coladas com a grade da quadra, tinham três pilastras, onde hasteávamos as bandeiras do país, do estado e da cidade. Eu e minhas amigas gostávamos de nos apoiar em duas pilastras, escalar a grade e dar um mortal. Mas nossos cérebros também funcionavam muito bem pra outras coisas, essa era a grande diferença. Quando eu segurei na pilastra do meio percebi que ela estava solta, mas já era tarde demais! Ela lentamente começou a cair em direção à quadra. Foi tudo em slowmotion, me lembro bem. Quando me virei pra quadra quem estava bem no meio dela, sozinho? O inútil do Fábio. Aquele imbecil tinha que estar bem ali. Eu fiz um baita esforço de tentar conter a pilastra, mas foi em vão. A parada devia ter uns 3 metros de altura e caiu bem em cima do fdp. Bateu primeiro na cabeça, depois no ombro esquerdo e caiu no chão. Foi um choque geral. Eu odiava aquele peste mas juro que nunca tive a intenção de eliminá-lo. O garoto caiu no chão se contorcendo de dor e eu, completamente desesperada, não sabia o que fazer. Meu Deus, matei o piá. Era a última aula, a mamãe do imprestável veio buscá-lo pra levá-lo ao hospital pra tirar chapa. E eu com o c... na mão. Era sexta. Eu passei o fim de semana todo imaginando ele todo engessado, na cadeira de rodas, mudo e cego de um olho. Não tive sossego de tanta procupação. Segunda de manhã. Muito medo de ir pra escola. Vou, não tenho saída, pensei em inventar uma dor de barriga pra não ir mas não ia ter sucesso. Quando chego na sala tá lá o infeliz, inteirinho da silva. Pra meu alívio imediato e consequente indignição. Mas que cabeçudo! Vaso ruim não quebra mesmo! Devia ter derrubado duas pilastras ao invés de uma! Não preciso nem dizer que, a partir desse dia, nosso ódio mútuo aumentou consideravelmente! Continuamos a nos perseguir e nos sacanear mas agora de uma forma mais intensa. Garoto insuportável! Um dia, uma amiga da turma resolveu fazer uma festinha americana na garagem de casa. Meninos levam bebida e meninas levam comida. Bebida no caso era refrigerante e a comida se resumia a Fandangos de presunto. OK. Eu que nao frequentava muitas festinhas estava adorando! Mas putz, o criança do Fabio ta aí. Ninguém merece! E fizemos a coisa mais improvável que poderíamos ter feito, deixando todos muito chocados. Jogamos fandangos um no outro? Caímos na porrada? Nos matamos? Não. Pior. Muito pior. A gente ficou! Sim, nós ficamos! Vai entender. Nem eu entendi. Mas o fato é que a gente ficou. E não satisfeitos começamos a namorar. Não durou muito. 7 meses. Mas o suficiente pra eu nunca mais duvidar do que reza a lenda: Amor e ódio andam de mãos dadas.

5 comentários:

  1. Meninos nunca crescem, vc já deve ter reparado.
    Pensando bem, meninas também não; mas elas disfarçam melhor...

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  2. Nós meninos somos bobos mesmo...onde já se viu, jogar futebol! Coisa imatura...jogar a infância fora assim, puf, de graça. Podiamos estar fazendo algo mais útil, como, sei lá...escalar grades e dar mortais como qualquer adulto que se preze...vai entender.

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  3. Preta, é isso aí.
    Tb não esqueço essa fase, lá estava a minha Tati de nomoradinho.
    Isso pq o "odiava" tanto que tinha dias que só tinha o fedelho do fábio pra ser lembrado.
    Mas vc cresceu e ele continuou um menino que esqueceu que na vida existem coisas melhores a serem passadas para as mulheres.
    Meninas crescem e se tornam mulhere incríveis, como vc. Os meninos, bem , os meninos, se esquecem de crescer.

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  4. Achei o texto fantástico e muito divertido! Só gostaria de discordar da primeira frase, onde você diz que era só uma menina feia de óculos e aparelhos nos dentes. Você sempre foi linda! Beijos.

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  5. a-mei o texto, muito gostoso de ler. e o melhor, aconteceu de verdade. mas, concordo com o Marcos acima: não te conheci quando tinhas essa idade, mas dúvido muito que eras feia! impossível =)
    bjs mil

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