sexta-feira, 3 de julho de 2009

Uma palavra.


Vou contar uma história.


Na academia onde eu malho trabalha uma moça muito gente fina, que tem um nome muito bonito "Tati". Não é zoação, ela é mesmo minha xará. Ela trabalha na faxina da academia e eu sempre gostei de bater papo com ela. Sempre sorridente, simpática. Unanimidade. Todo mundo gosta dela. Certo dia eu reparei que ela tava mais gordinha e ela, muito feliz, me disse "to grávida". Felicidade era a estampa da cara dela. Todos os dias, ou pelo menos nos dias em que eu ia (rs), ela me falava um pouco sobre aquela experiência. Mãe de primeira viagem. É um menino. O pai ta que não se aguenta de orgulho. E a barriga crescia. E ela sorria. E todos mimavam. E ela sorria. E os meses passavam. E ela sorria. Era óbvio que se tratava de uma família humilde, eu não sei onde ela mora, nunca perguntei. Só sei que uma nova família estava se formando. E ela sorria. Lá pelo 7º mês de gravidez ela sumiu. Soube que o bebê nascera prematuro. Dias depois Tati apareceu na academia. Não preciso nem dizer que ela sorria. Ela me disse que o bebê precisaria ficar umas semaninhas na encubadora pra ficar mais gordinho e mais fortinho. E eu a fiz prometer que assim que ele saísse do hospital ela iria trazê-lo pra vermos a sua carinha. Encontrei com ela mais uma vez e fui logo perguntando pelo menino. Ele ta engordando, to correndo pro hospital agora, não vejo a hora de levá-lo pra casa, ela dizia. Semanas se passaram e eu não a vi mais. Hoje, entrando na academia, eu a vi na recepção e mais uma vez fui logo perguntando, e o bebê? Dessa vez ela não sorriu. Olhou pra mim com os olhos mais vazios que eu já vi na minha vida e me disse uma única palavra que me acertou como uma paulada atrás dos joelhos. Faleceu.
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To me sentindo uma estúpida por não ter abraçado ela ali mesmo e não ter chorado com ela até que a dor passasse. Mas eu só consegui dizer meia dúzia de palavras cretinas das quais eu nem me lembro agora.

E me pergunto o dia inteiro:

O que move essa mulher? O que a faz se levantar da cama todos os dias, mesmo sabendo que seu anjinho não ta mais ali? O que não a deixa ir embora? Que poder a mantém lúcida? Que motivação ela encontrou pra continuar a seguir sua vida?
Motivação. Que motivação? Que motivação te faz abrir os olhos com a luz do dia e fechar quando chega a noite porque amanhã tem que abrir os olhos de novo? Que força lhe faz continuar vivendo mesmo quando parece que a vida já lhe levou um braço, uma perna e o fígado? O que não te deixa cruzar os braços? O que tem la na frente que te faz dar um passo e depois o outro? Por que você continua lúcido? Por quem você continua lúcido?

No que você acredita?

Eu também não sei. Mas me pergunto isso todos os dias.

6 comentários:

  1. Amada,
    não sei ainda e tambem não descobri o porque só sei que temos sim que continuar lucidos, porque a vida tem que continuar, temos que caminhar sempre em frente.
    Como todo e sempre , ouvimos desde antigamente que não podemos deixar cair a peteca.
    Já dizia um velho sábio: na vida, Deus nos dá muitas chances, Ele não argumenta, Ele não discute, se voce acha que uma porta se fechou pra voce seguir em frente, olhe de novo, olhe ao seu redor e voce verá que Deus lhe abriu uma janela.
    Assim é o porque voce tem que continuar a vida, não podemos nos deixar esmurecer, temos que nos erguer e continuar.
    Por mais triste que possa parecer, por mais dificuldades que possamos ter, temos que levantar e continuar seguindo a vida.

    Beijos

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  2. a gente tem que sempre acreditar
    cada um da sua forma
    cada um com as suas razões/emoções
    com a sua dor, com o seu amor
    se não,
    não é possível seguir em frente

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  3. a morte sempre nos ronda.
    a gente é que as vezes esquece dela.
    mas ela não esquece da gente.
    o telefone um dia toca e... morreu.
    levanta a cabeça, estufa o peito e celebra a vida enquanto ela não chega.
    por que um dia...Chega o dia!
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  4. O que será que me dá
    Que me bole por dentro, será que me dá
    Que brota à flor da pele, será que me dá
    E que me sobe às faces e me faz corar
    E que me salta aos olhos a me atraiçoar
    E que me aperta o peito e me faz confessar
    O que não tem mais jeito de dissimular
    E que nem é direito ninguém recusar
    E que me faz mendigo, me faz suplicar
    O que não tem medida, nem nunca terá
    O que não tem remédio, nem nunca terá
    O que não tem receita

    O que será que será
    Que dá dentro da gente e que não devia
    Que desacata a gente, que é revelia
    Que é feito uma aguardente que não sacia
    Que é feito estar doente de uma folia
    Que nem dez mandamentos vão conciliar
    Nem todos os unguentos vão aliviar
    Nem todos os quebrantos, toda alquimia
    Que nem todos os santos, será que será
    O que não tem descanso, nem nunca terá
    O que não tem cansaço, nem nunca terá
    O que não tem limite

    O que será que me dá
    Que me queima por dentro, será que me dá
    Que me perturba o sono, será que me dá
    Que todos os tremores que vêm agitar
    Que todos os ardores me vêm atiçar
    Que todos os suores me vêm encharcar
    Que todos os meus órgãos estão a clamar
    E uma aflição medonha me faz implorar
    O que não tem vergonha, nem nunca terá
    O que não tem governo, nem nunca terá
    O que não tem juízo

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  5. é porque no fundo bem no fundo acaba que a gente vive pela gente mesmo. Perdas são sempre tristes mas no fim somos nós quem ficamos, né?

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