sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Ensaio sobre o futuro.


Creio que, pelo menos, nas últimas três décadas que antecederam a virada do milênio, vivemos as delícias de idealizar os anos 2000. Em todos os países, em todos os idiomas, em todos os degraus da pirâmide social, de norte a sul, dos olhos puxados ao país tropical, do hasta ao chucruti, de onde o sol nasce quadrado às margens do Mar Morto, de cima das corcovas dos camelos aos iglus, todos se perguntavam que diabos aconteceria com o mundo quando, no dia 31/12/1999, o relógio batesse a décima segunda badalada. Uns acreditavam no fim do mundo, outros tantos no Bug. Carros voadores, viagens de férias à Lua, máquina do tempo e do teletransporte, ser vizinho dos Jetsons, pouco importa, o fato é: todos, sem exceção, acreditávamos em alguma coisa, qualquer coisa, relativa ao início de um novo século e, principalmente, à virada do milênio. Mas, para os nascidos no aclamado ano de 1982, além de todas essas coletivas especulações, havia algo ainda mais relevante: completaríamos 18 anos no exato ano de 2000. Entraríamos o novo milênio com a maioridade. Iniciaríamos um novo século com carteira de habilitação no bolso e sem mais migué nos seguranças em porta de boate. Seríamos livres num mundo novo. Donos do próprio nariz numa outra dimensão. E tudo indicava um futuro promissor. Democracia no Brasil, unificação da Alemanha,  a informação, CD e DVD, o impeachment, a internet, o Tetra, o celular, a ovelha Dolly, o  movimento pop, enfim... tava tudo certo! Rumávamos à tempos inesquecíveis. O mundo era nosso. De ante-mão, o mundo era nosso por merecimento, afinal, nascemos em 82, faz as contas!! Sairíamos de um velho milênio, do qual não nos interessava mais, abandonaríamos uma fase do nosso desenvolvimento, da qual, também já não nos instigava interesse há alguns anos e atravessaríamos um portal sem direito a volta. (não que nos fosse dada essa opção. Mas mesmo que fosse!) Ai, ai... Contávam... Bom, EU, pelo menos, contava os dias. Que privilégio! Início de um século novo, virada pra outro milênio, maioridade. Cortaríamos o cordão umbilical da adolescência, da dependência e do passado. Seríamos testemunhas oculares de uma nova era. Entraríamos em dois mundos desconhecidos de uma só vez: o do futuro e o da maturidade. E nos sentíamos capazes!

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No entanto, cá estamos nós, bebês de 82, crianças da década de 80, adolescentes da década de 90 e emancipados pela virada do milênio. E, prestes a adentrar o ano de 2010, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 2010, ainda não vimos o mundo acabar, não temos carros voadores (eu sequer tenho um com rodas!), a máquina do tempo, por enquanto, só nas ficções e as dúvidas em relação a veracidade da chegada do homem na Lua ainda pairam no ar. A cura da Aids ainda não foi revelada, a do câncer muito menos,  seres  tão humanos  quanto nós ainda comem nosso lixo, pessoas ainda são discriminadas pela raça, classe e preferência sexual, dinheiro público continua sendo desviado gerando fome e analfabetização, muito mais lixo no mundo do que ele é capaz de suportar, guerras por dinheiro, guerras por religião, guerras por drogas, guerras por guerras, aquecimento global, intolerância, violência, desamor. Nem Chapolin Colorado numa hora dessas pra nos defender. E maioridade vira sinônimo de orfandade. Ficamos órfãos dos nossos próprios sonhos. Caímos do cavalo. Balde de água fria. Brochamos. Orelha de burro. L de loser. Nos fudemos de verde-e-amarelo. Ficamos a ver navios. Desilusão, danço eu, dança você. Mas também pudera, ninguém nunca nos disse que não podíamos acreditar nos filmes de ficção e que o Dr. Brown era só um personagem inventado por mais uma dessas cabecinhas iludidas com os anos 2000. E pros nascidos em 82 uma dupla decepção, porque também nunca ninguém nos disse que ser adulto é um saco e que as contas chegam todos os meses, sem exceção!!! Devíamos tomar uma providência!

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E que venham os anos 3000. Atcha! Bendito 1982 que não me permitirá chegar lá.

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Mas pode ser que a qualquer momento alguém revele ter descoberto a fórmula de congelar humanos e fazê-los ressucitar anos mais tarde. Aí poderemos nos sujeitar a essa experiência inovadora e nos decepcionar mais uma vez com nossas próprias projeções!!!




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Quem sabe, ainda há uma esperança!        

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