terça-feira, 28 de junho de 2011

Canção de Despedida.



Ela não quis pegar um taxi e saiu andando pela rua vazia.

Ele não conseguiu se levantar do sofá.

Ela chorou sem se lembrar que a maquiagem não era à prova d’água.

Ele abriu uma cerveja.

Ela foi dormir no abraço da melhor amiga.

Ele saiu e encheu a cara de mulheres.

Ela comprou roupas novas.

Ele deixou um recado na secretária pedindo sua escova de dentes.

Ela adotou um gato.

Ele foi visitar a mãe.

Ela se desfez dos cds do Burt Bacharah.

Ele ainda não lavou o copo com marca de batom.

Ela chora todas as noites antes de dormir.

Ele aprendeu a jogar sinuca.

Ela criou um blog.

Ele começou a namorar.

Ela deixou o cabelo crescer e pintou de loiro.

Ele nunca tirou a barba.

Ela se apaixonou.

Ele terminou.

Ela se casou.

Ele começou a fumar.

Ela teve gêmeos.

Ele ainda mora no mesmo apê.

Ela se divorciou.

Ele comprou um carro novo.

Ela parou no meio da faixa de pedestres. Ele baixou o vidro. Ela teve a impressão de conhecer aquele rosto, apesar da barba recém-feita. Ele teve a impressão de conhecer aquele olhar, apesar dos anos. O sinal abriu. Os carros buzinaram. O celular dela tocou na bolsa. Ele esbarrou no limpador do para-brisa. O sinal já estava amarelo novamente quando ele decidiu arrancar e ela terminou de atravessar a rua. Foi só uma impressão.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Um amor de Maria.



Diz ela que me viu de amarelo e me achou linda. Pouco antes de sumir por alguns anos. Voltou num carnaval. Claro, não podia ser num outro momento senão num carnaval. A cidade em festa para recebê-la. E meu coração em festa por re-conhecê-la. Passaram-se dias, semanas, meses, 1 ano. Mais um carnaval chegou e junto com ele uma asa. Duas asas. A direita de proteção. A esquerda de anjo. E uma porta. Que se abriu pra mim. E eu entrei. Timidamente, antes de servir o primeiro drink. E já no segundo trocávamos confissões falando do passado, do presente e do futuro. Mas muito mais do presente. Ela me contou histórias sobre a realeza. Me deu de provar a certeza. E me mostrou a minha beleza. Que eu não tinha. Não pra mim. Ela sabe bem de cozinha, mas por enquanto eu tento afastá-la do liquidificador. Ela conhece o Frank. Ela canta. Agudo como eu sonharia se ousasse. Ela já viu o mundo. Ouviu um mundo. Viveu vários mundos. Dispensa a legenda. Pergunta pro Google. Conversa com a esposa do Tristão. E tristeza pra ela vem disfarçada de mau-humor que logo vai embora. Faz festa por onde passa. Então fica fácil entender porque o mundo a quer por perto. Uns diriam que é por causa dos seus cabelos. Lindos. Que escorregam sobre os ombros. Outros diriam que são os olhos que tem a mesma cor dos cabelos. Outros ainda pensariam que é o sorriso que combina com os olhos, que, por sua vez, combinam com os cabelos. Eu diria que é dedo mindinho do pé. Do pé esquerdo. Ele combina com o sorriso. E assim nada falta. Outro dia ela me pediu que a acordasse tal hora. Não pude deixar de reparar nos cílios que pareciam que dariam um nó em si mesmos. Eu podia imaginar onde moram seus sonhos. Mas isso eu não conto nem pra ela. Desconheço a razão, o motivo e o porquê. Só posso dizer que amor só pode ser o que é. Quando bate a gente aceita. Não tem jeito. E amor só pode ser algo que só pode ser parecido com isso que sinto por Maria. Minha amiga. Beloca Maria.