domingo, 2 de maio de 2010

Do vazio.

Quanta oferta. Quantos amores que duram uma noite. Um dia. Um tanto.
E você se vê debaixo de um céu azul. Seja de brigadeiro ou marinho. E só. Está só.
Você olha pro infinito e o que ele lhe diz? 
Você olha pras estrelas e se pergunta se alguém também as vê. Não apenas como estrelas.
Você vê a Lua e o que enxerga? Um presente que alguém lhe deu certa vez. Comprei pra você.
E você sabe que cansou de ser só. Mas não tem coragem de contar isso à ela. Tem medo de parecer ridículo.
Num ato de desespero você então se agarra ao primeiro bote que passa. Arrastado também pela correnteza que não o leva à lugar nenhum. Ele vai afundar. E você sabe disso. Mas acha melhor do que se afogar sozinho.
Faltam palavras. E sobram suspiros.
Sobra esperança. E falta um pedaço.
Cuidados.
Você quer ser cuidado. Admirado. Sentido. Pisado. Reconciliado. Inteiro.
Você precisa ser contrariado. Magoado. Decepcionado. Pra se sentir feliz. Completo.
Ninguém disse que seria fácil. E você nunca se opôs por causa disso.
Ele faz tudo errado. E eu transbordo defeitos. Perfeito.
Não quer mais dar apenas uma parte pra cada.
Como se você fosse vários. Uma parcela pra cada um. Momentos. E não uma vida.
Mas aonde depositar o inteiro e não se sentir vazio?
E você só se dá conta dessa mutilação em certas noites. Como essa.
Falta um braço. Uma perna pra caminhar junto. Um coração pra ser dois.
E você toma coragem, perde o medo do ridículo e pergunta à estrela maior: em que parte desse mundo andará o pedaço que falta? Estará ele de férias nas Ilhas Fiji? Ou no interior do Brasil olhando o céu neon e se peguntando o mesmo?
Mas num momento de revolta maior você quase deseja amar mais o dinheiro. Ou então ser feito de máquina. Movido à pilha. E não sentir.
Felizes são os pinguins. Eles se casam para sempre. E, na maioria das vezes, quando se perdem numa migração, eles conseguem se encontrar um tempo depois. E não são felizes apenas porque são fiéis ao sentimento. Mas porque não se questionam. Ninguém num mundo inteiro de gelo pode ser mais merecedor de seu amor do que aquela criatura. E vice-versa.
Mas na escola ensinam que os racionais somos nós.
Racionais demais pro meu, pro seu, pro nosso gosto. E é por isso que nos perdemos. E nada fazemos pra nos encontrarmos dentro de outra pessoa. Porque é isso o que acontece. Nós nos apaixonamos quando nos encontramos dentro de outra pessoa. E por mais que pareça impossível, é quase como se fosse mesmo. Impossível. Improvável.
Você quer ouvir uma música e lembrar de alguém. Fechar os olhos e deixar que ele entre. Sem bater.
Você quer a incerteza. O inconstante. A descoberta. A emoção. A lágrima. De alegria. De medo. 
Tudo o que queremos é dar um passo. Tirar o pé do vazio. Se jogar de cabeça, de peito, de espírito. 
Te amo.
Você é a pessoa da minha vida.
E sonha com a pessoinha que terá os olhos dela. Mas o seu sorriso.
É a ordem natural das coisas.
Você já parou pra pensar, matematicamente, em qual é a probabilidade de você encontrar desejo, alma, amor, admiração, amizade, companheirismo, aconchego, proteção, projeções, arrepios, coragem e paixão tudo numa mesma pessoa? E o mais importante: que depois de achar tudo isso, ela esteja livre e disposta a apostar alto nessa parceria?
Não. 
É um privilégio pra poucos.
Mas acho que somos merecedores. 
Desde quando escolhemos que assim fosse.
Um brinde ao avanço da tecnologia. Que faz o seu trabalho dignamente.Afasta os corações. Mas lhe dá em troca um cardápio de vazios. Com o vazio se trabalha melhor.
Ainda bem que a internet ainda não chegou ao Pólo Sul. Os bichinhos de lá são muito mais felizes sem ela.


3 comentários:

  1. amiguinha, triste pelo seu, pelo nosso desencontro, mas muito feliz no seu aprimoramento em expressar...
    cada dia gosto mais das suas palavras, do jeito que elas saem do seu coração e do jeito que tocam os nossos!!
    bjs

    ResponderExcluir
  2. Pessoas quebram nosso coração. É tão pateticamente humano! Desumana é a nossa velha mania de aspirar por aquilo que jamais será. Desumano acreditar no principe encantado da história que a vovó contou pra mamãe e que a mamãe contou pra mim. No fundo, ele nunca sairá dos contos da carochinha. Melhor assim.Deixe-o lá, Tati, nas folhas amareladas pelo tempo. E ame-se a si mesma. Mais que tudo, a si mesma. Vc verá que no fim das contas só restará vc com vc. E não é suficiente? O principe terá muitas faces, Tati. Mas vc estará crescida e não acreditará mais nele...

    ResponderExcluir
  3. Assino embaixo.
    Mas podemos fazer diferente.
    Podemos?

    Sem mais palavras.

    ResponderExcluir