sexta-feira, 25 de junho de 2010

O DESEJO é boca.


DESEJO é mais que vontade. DESEJO é mais que querer. O Aurélio já traz a tradução: vontade de possuir ou gozar. Apetite. Apetite sexual. Vontade exacerbada de comer ou beber algo.
O DESEJO está diretamente ligado à boca. Diga DESEJO. Palavra sonora. Dizer ou ouvir DESEJO arrepia a pele. DE-SE-JO. É quase uma canção. Uma canção de uma só palavra. Ter DESEJO. Ter DESEJO não significaria outra coisa que não fome de alguma coisa gostosa ou fome de alguém.
O DESEJO está relacionado a dois dos sete pecados capitais. Gula e luxúria. A prática da gula está na boca. A prática da luxúria começa pela boca. O DESEJO está na boca. O que sai dela também nos causa ou não DESEJO.
E o DESEJO não pára aí. Ele entra pela boca, desce pela coluna, causando arrepios, chega com calor na púbis e volta como um vômito pelos olhos. Desperta o corpo inteiro, faz suar as mãos, estremecer a voz, amolecer as pernas. Tira sua concentração e às vezes lhe causa obsessão. O DESEJO pode virar paixão. Ou ficar só no DESEJO mesmo. O que já é bastante coisa.
Em nome dele fazemos loucuras. O DESEJO nos tira a razão. Afasta nossos pés do chão. Consome nossa consciência. Devora nossa moral. E nos faz lembrar que nosso instinto é animal. DESEJO dói no estômago. Arde no peito. Fala pela nuca. DESEJO tem música. Faz parar o tempo. Invade os nossos sonhos. DESEJO nos dá água na boca. Molha nossos lençóis. Sai pelos poros. DESEJO fala, grita, esperneia. Mas às vezes é segredo. O DESEJO não tem explicação. É urgente, individual e intransferível.
DESEJO é mais corpo do que alma.
DESEJO é DESEJO.
DESEJO de alguém.
DESEJO de uma torta de trufas.
DESEJO é fome.
DESEJO é pecado.
DESEJO é prazer.
Que o diga Adão e Eva. Baco/Dionísio. Calígula. Paul e Jeannie (personagens de Último Tango em Paris). Etcétera.
Que o diga nossos pais.
Que o diga eu.
Que o diga você.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Baseado em Fatos Reais.


Era uma vez uma menina. Não era bonita. Tímida. Ela não sabe explicar exatamente onde tudo começou. Mas sabe que desde que se conhece por gente é assombrada por pesadelos. Alguns reais. Outros não. Noite sim, noite não, ela acordava assustada no meio da noite com as sucessivas discussões dos seus pais. Ela não sabia o que fazer. Porque tinha um raciocínio simples de criança que já era adulta sem saber. Se ela tinha algum problema, se caía e ralava o joelho, por exemplo, ela chamava os pais pra resolver. Mas e quando o problema era com eles, a quem ela chamaria? Ela tinha medo e ficava quietinha até que o silêncio voltasse. Os pesadelos em sonho eram habitados por pessoas que ela nunca vira na vida. Algumas vezes elas apareciam quando ela estava acordada também. Era possível pra ela, descrever o rosto daquelas pessoas, tamanha nitidez com que elas lhe vinham. Essa menina também tinha alguns problemas de saúde, mas especificamente nas perninhas. O que a obrigava a usar botas ortopédicas pra dormir. Seus lençóis estavam sempre rasgados e isso a fazia chorar pelas manhãs. Suas noites eram perturbadas de todas as formas.

Ela tinha uma irmãzinha e um irmãozão. A irmãzinha dormia no mesmo quarto que ela. Certa noite, quando a irmãzinha era apenas um bebê de colo, a menina viu sua mãe sentada na beira da cama da irmãzinha com a mesma no colo, pedindo à Deus que não a levasse e gritando para o pai chamar um médico. O corpinho da irmãzinha cabia direitinho no colo da mãe. E seus olhinhos se retorciam, ardendo na convulsão. Ela quase morreu.

Eles se mudaram de casa. Ganharam um quintal. Bicicletas e patins. E as discussões noturnas continuavam. O irmãozão entrou na adolescência e se viu perdido naquele mundo. Passou a usar roupas rasgadas. Deixou o cabelo crescer e pintou de vermelho. Usava camisa de flanela e parecia um estranho no ninho. Venerava Kurt quando Kurt ainda era vivo. Mal falava com ninguém e não gostava que entrassem no seu quarto. Começou a fumar. A beber. E, parecendo filho de iguais adolescentes, ganhou uma moto. Teve uma queda. Quase perdeu uma vista. Um dedo da mão. Teve outra queda. Ele quase morreu.

A mãe queria fazer de um tudo. Mas achava que não conseguia fazer nada. Ficou mais triste do que uma pessoa pode ser capaz de ficar e acabou doente. Deu alguns sustos nos filhos. Precisou ir pro hospital uma primeira vez. Continuou triste. Teve de voltar ao hospital uma segunda vez. Uma enfermeira desavisada lhe deu uma injeção errada. A mãe entrou em choque. Ela quase morreu.

O pai parecia alheio aquilo tudo. Mas não tinha brilho nos olhos. Construiu seu patrimônio. Mas um dia os homens-maus entraram na sua casa. Renderam ele e a menina, a do meio. Amarraram os dois. Ameaçaram. Assustaram. O homem mais mau dos homens-maus segurou o pai pelos cabelos e engatilhou a arma na cabeça dele. A menina virou a cabeça pra não ver e achou que viria um estampido. Ele quase morreu.

A menina, no meio de toda essa confusão, se apaixonou. Mas não por um menino como ela. E sim, por um homem. Viu a impossibilidade daquele amor. Ficou triste. Chorou um bocado. Não sabia pra onde correr. Não tinha pra onde correr. Um dia ela fez a infeliz combinação de remédios com vodka. Ela quase morreu.

No entanto, estão todos aí. Vivos. Não se pode dizer que foi exatamente uma família feliz. Mas por alguma razão qualquer, que essas coisas dispensam explicações, eles se amam muito. E hoje, todos têm sua vida. Saúde. Cada um tem sua casa. E até uma certa paz. O pior já passou. O melhor ainda não chegou. Mas o arco-íris é longo. E o pote aguarda. E só quem é vivo é capaz de chegar lá. E eles sabem disso.

;)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Sobre a insegurança dos homens.


E quando eu digo homens, não estou me referindo à espécie homo sapiens. Estou me referindo ao gênero. Ao artigo definido O. Machos. Rapazes. Garotos.

Desde pequenos se esgueirando pelos cantos com fotos de mulher pelada, na curiosidade de quem desconhece. Ou espiando debaixo da saia das meninas, levando-as a um choro incontrolável. Sempre à frente das meninas por conta da curiosidade. E sempre atropelando tudo por conta da insegurança.

E as meninas choram quando eles levantam suas saias porque para elas não há porque esconder sua mágoa. Quando elas crescem continuam chorando por causa das atitudes dos homens porque para elas continua não existindo motivos pra esconder sua mágoa. Os meninos acham graça e até levam bronca dos adultos, mas continuam achando graça. Quando crescem se magoam com as atitudes femininas, mas ainda preferem achar graça. É mais fácil pra eles do que chorar. Eles arriscam menos porque têm medo da possibilidade de se magoar um pouquinho. Se as mulheres abrem o berreiro ao fim de um relacionamento e se os homens riem, não quer dizer que elas sintam mais do que eles. Quer dizer apenas que eles têm menos coragem do que elas. É preciso ser macho pra chorar, pra admitir uma saudade, pra perder o medo do ridículo. E nesse quesito as mulheres são mais machos que os homens. Elas choram, se descabelam, sendo honestas com sua dor e com seus sentimentos. Eles ainda não aprenderam a chorar batendo no peito.

A verdade é que eles têm medo de falhar. Eles têm medo de sentir vontade de ficar triste por um dia inteiro. Eles têm medo. Talvez um homem seja mais capaz de se casar com a primeira moça bonita que lhe cruzar o caminho do que com a mulher da vida dele. Porque pelo menos com a primeira ele não se sentirá na obrigação de fazê-la feliz até que a morte os separe. Eles temem não fazer a coisa certa. Algumas pessoas conseguem ser duras consigo mesma. Principalmente o sexo forte. Afinal, essa força toda deve existir pra exatamente isso: ser duro consigo mesmo.

Encostá-los na parede ou obrigá-los a fazer uma escolha não é coisa boa. Eles não se sentem aptos a isso. Têm medo da escolha que possam fazer. Se questionam até que as coisas simplesmente aconteçam e não seja mais necessário decidir.

Você passa sua adolescência idolatrando aquele moço bonito e achando que ele não tem olhos pra você. Anos mais tarde vocês terão uma conversa à toa em que ele vai confessar a paixão que nutria por você. Paixão essa que nunca veio acompanhada de coragem. Você vai terminar um relacionamento com a certeza de que o amor dele por você é inexistente. Pra depois entender que o amor nunca acabou. E sim a coragem que expirou. E assim muita coisa passa.

Quantas mulheres com mais de trinta que você conhece que ainda mora com os pais? E quantos homens? Esses meninos são capazes de durar uma vida debaixo da barra da saia da mãe. Enquanto as meninas experimentam usar suas asas mais cedo. E com mais frequência.

E os homens fazem muito bem o papel de bobo quando estão perto de uma mulher interessante. Metem os pés pelas mãos. Falam bobagens. Fazem tudo errado. E às vezes conseguem estragar tudo. Por pura falta de segurança. Não sabem se põem a mão no bolso ou se cruzam os braços. Se devem falar ou ouvir. Como agir. E chega a nossa hora de também achar graça. E às vezes até perder a paciência.

Porque os homens são sempre garotos.

Nós mulheres somos apaixonadas por vocês, garotos, mas ainda esperamos de vocês um pouco mais de coragem. 



quinta-feira, 10 de junho de 2010

3 X amor


- Eu amo três. Um pelo o que ele pode me dar. Outro pelo o que ele me dá. E outro pelo o que ele já me deu. O primeiro é pra onde eu vou. O segundo é onde eu estou. O terceiro é de onde eu vim.

- E como é possível pra você amar a três pessoas?

- Eu amo os três porque eu não tenho nenhum.

- E se algum deles te quisesse só pra ele. Se ele te pedisse exclusividade "Você tem que ser só minha!". Você aceitaria ser exlcusiva de um deles?

- Sim. Claro.

- De qual deles? 

- Do primeiro. Do que ainda pode me levar à algum lugar.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Para Maria Manuela.


Noite passada eu sonhei com você. Na verdade não é a primeira vez que você me aparece assim, no subconsciente. Já te vi outras vezes e me apaixonei por você em todas elas.  Dessa última vez que te vi você era um pinguinho. Tinha acabado de chegar ao mundo. Sua pele muito branca. Seus olhinhos sem cor definida e sem direção certa. Seu cabelinho muito clarinho era quase nada. Seu corpinho miúdo. Eu te carregava no colo, junto ao meu corpo. Te dava meu calor. Você cabia direitinho nos meus braços e no meu coração. Eu sentia seu cheiro. E te reconhecia um pedaço de mim. Eu cheirava sua respiração. Você era de mim. E era minha. 
Em algum momento você simplesmente desapareceu de mim. Eu não sabia onde você estava. Eu estava num edifício muito grande. E ninguém sabia me dizer onde você estava. Eu virei bicho. Comecei a procurar você em cada canto daquele lugar desconhecido. E nada me ajudava. O elevador não andava. Portas me levavam à lugar nenhum. Pessoas pareciam não falar a minha língua. E eu parecia uma loba desnorteada atrás da sua cria perdida. Foi um desespero.

Não sei te dizer como acabou esse sonho maluco. Acordei em algum momento dele e isso é tudo o que eu lembro. Acordei chorando. Com um aperto muito grande no peito. Mas depois eu me lembrei da sensação de te ter nos braços, de sentir seu cheiro e o medo passou.
Quando você vier pra cá você vai conhecer um mundo cheio de coisas boas. E cheio de coisas ruins também. Porque lugar perfeito só existe esse onde você está hoje aguardando sua hora. Você vai me conhecer. Vai me ter como seu chão. Sua base. Seu exemplo. E eu espero poder ser isso tudo pra você. Mas, com o tempo, você também vai descobrir que eu sou cheia de defeitos. Você será muito amada. Eu te quero muito. Não vejo a hora de te ver desorganizando meu mundo e tomando todas as atenções só pra você. Eu vou abrir mão do meu sono. E até da minha paz. Eu não vou realizar seus sonhos. Mas vou te ensinar o caminho. Eu não terei o poder de impedir que alguma coisa te deixe triste de vez em quando. Mas eu nunca vou soltar sua mão.
Quando você quiser vir eu estarei pronta. E então você deixará de ser um sonho. E fará parte da minha vida real. Um sonho. Na minha vida. E, então, eu vou descobrir que eu nada sabia sobre o amor.

Ass: Sua Mãe.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Nunca brinque com uma Gêmeos de ascendente Escorpião.




O primeiro me chegou como quem vem do florista. Trouxe na mão uma rosa em um vidro de perfume. Me olhou nos olhos e encontrou minha alma. Falou de saudades. Indagou o futuro. Abraçou meu choro. Soluçou na minha emoção. Me contou seus medos. Me deu raiva suas dúvidas. Se fez confuso. Cantou pra mim. Quis mais. Me quis que eu sei. Pôs a prova nossa saudade. Sonhou com meu colchão. Pra depois espezinhar. Ignorar. Mentir. Dissimular. Me deu um quando éramos só os dois. Me deu outro quando éramos multidão. Me causou indignação mais uma vez. Mas já não me trouxe dor.

O segundo me chegou como quem chega do bar. Correspondeu a minha vontade no meio da pista de dança. Dançou comigo música lenta enquanto nas pick ups batia um samba. Me pagou jantares. Me deu um Saramago. Sentiu saudades. Me desejava todos os dias. Me dava maturidade. Experiência. Cinema. Me chamava de mulher e me queria menina. Me encontrava zonza. Me namorava. Me queria como ninguém na maior reciprocidade que já tive em vida. Me deu o melhor sexo. E amor. Pra depois fazer silêncio sob a minha descoberta. Sumir por uns dias. Quebrar o constrangimento pra falar da filha pequena. Passar dias com a família na metrópole maior. E voltar cheio de fome de mim. Continuar me levando pra jantar. Me dizer coisas sujas e apaixonadamente me requerer. Se apossou do meu desejo. E me fez parar de duvidar do seu amor.

O terceiro me chegou como quem chega do nada. Surgiu na minha frente às cinco da manhã. Me fez responsabilizar o álcool pela visão turva da coisa. Exigiu minha atenção. Me causou medo e desejo. Me comparou à menina de 10 anos atrás. Me enxergou. Falou meia dúzia de frases desconexas. Se mostrou um menino nervoso diante da mulher que me tornei. Seguiu meus passos. Encontrou minha luminária sobre a cama. Reconheceu meu cheiro. Matou minha curiosidade. Pra depois contar segredos. Discordar da minha certeza. Declarar seu amor e seu medo. Me levou ao passado. Me deu todo o carinho economizado por suas próprias razões. Falou da expectativa de anos. Riu quando eu disse que deveríamos voltar às nossas vidas normais. Se despediu querendo ficar. E fez o meu divisor de águas.

Ciclos que não se fecham e que acham a nossa porta anos depois. Fazem Knoc. Knoc. Essa certeza me trouxe calma. Esperança. E pena.
Ficou mais fácil perceber que a minha capacidade em me doar é tão grande quanto à de deletar. E não sentir culpa faz parte desse processo. Eu não serei menos feliz por isso.
Uma menina geminiana com ascendente Escorpião, que já provocou e sentiu tanto amor em tão pouco  tempo de vida, não deve ser de todo mal. Esses três são só alguns dos últimos exemplares. Alguns vão ficando pra trás. Outros vão seguindo comigo até uma esquina qualquer. Outros vão me encontrando pelo caminho. Outros ainda vão escolher seguir comigo pra vida.
E pra brincar com uma combinação tão intensa como a minha só se for pra brincar de verdade! Porque é o que eu faço ;)