Hoje pela manhã eu ouvi a música tocando numa rádio
qualquer. Pela janela eu assistia o mar correndo mais rápido do que meus olhos
eram capazes de acompanhar. E a velocidade das rodas me levaram pra um lugar de
anos atrás. Quando eu tocava e cantava baixinho no violão essa mesma música. E
eu me dei conta que esse anos atrás era, de fato, outro lugar. Como um objeto
que a gente muda da estante pra prateleira. Eu saí da estante por um breve
momento e fui reexperimentar a prateleira simbolizada pelos anos atrás. Eu...
eu não sabia que o hiato era tão grande. Anos atrás. Não meses. Ou semanas. Ou
dias. Anos. Então eu entendi que a distância de posição entre onde me encontro
agora e o lugar onde minha vida habitava nesses anos atrás é muito maior do que
a distância entre os móveis da minha sala. Era um lugar diferente. Não mais
feliz, nem menos divertido. Não mais próprio, nem menos difícil. Era apenas um
lugar diferente na ordem universal. As quatro paredes do meu quarto
significavam algo tanto quanto mais entusiasta. A música que saía do meu
instrumento, presente de um amor grande demais pro meu entendimento, era
sublime. Eu era capaz de fazer música! E meu quarto se enchia dela. Refletia na
cabeceira da cama, cheia de figuras coladas, nas roupas espalhadas pelos quatro
cantos, nos meus cabelos curtos encaracolados, na minha alma infantil, na minha
capacidade de me entregar aos meus sonhos. Eu errava duas ou três notas e só me
restava rir. E rir era o que de mais poderoso eu sabia fazer. Como ontem,
sentada no banco de trás do táxi, ao rir com vontade de uma bobagem qualquer,
alguém me disse: “Você ri de verdade!”. Talvez essa seja a única coisa que me
remeta àquela pessoa de muito mais do que semanas atrás. Anos. Pouco mais de
três anos. Aquela que gostava de escrever cartas e ler bilhetes deixados pela
manhã. Que colocava sal demais na comida. Que usava calcinhas coloridas de
algodão. Que era tímida e desconhecia o tamanho do próprio coração. A que acreditava
piamente que os sonhos pulavam pro lado da realidade sem cerimônias. A que não
questionava a verdade dos outros. E que confiava na máxima rodriguiana de que o
amor dura pra sempre, se acabou não era amor. A de outrora e a de hoje quase já
não se comunicam. Mas ainda há essa coisa que as une. Elas riem de verdade. Eu
rio de verdade!
fofo.
ResponderExcluirRi para mim Tati!!!!!
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