domingo, 8 de agosto de 2010

LUTO.


Pra não dizer que não falei das flores, faço delas o símbolo do luto dele. Não as Gérberas porque elas têm beleza demais. Não as rosas porque elas ditam o contrário. Talvez as margaridas brancas porque elas pedem paz. Não o deixo de trazer no peito porque da falta dele desfaleço. Mas os olhos míopes por natureza respeitam seu luto. Eles desaprenderam o seu caminho. Não por falta de vontade. Mas a coragem já passou há muito por muito longe. Ele antes descompassava por amor. Hoje não bate porque não sabe mais. Cansou da música alta e das batidas surdas do vazio. Não vive mais. Desistiu de achar outro que bata no mesmo compasso. Porque sabe que não é pra sempre. E que o pra sempre sempre acaba. O que não é pra sempre já deixou de ser interessável. Ele já esgotou as lágrimas por amores não possíveis. E hoje só não chora por não conseguir nem os passageiros porque secou. Ele não é mais capaz. Achava triste bater sozinho sem resposta. E agora se entristece simplesmente por não bater. E não bater não é melhor. Ele pensa: Antes se iludir, mas pelo menos vivo. Vivo ele continua. Mas não sabe. Só sabe que pede: Socorro. Não bate, não apanha. Vive pra viver seu luto. Seu mundo fechado pra visitação. E talvez aí ele conheça o pra sempre. Um pra sempre que nem sempre acaba. Ele usa preto. Nem cinza, nem roxo. Apenas preto. Viúvo de si mesmo. No silêncio de uma batida. E não adianta insistir. Ele é teimoso por falta de opção. E excesso de medo. Eu o deixo calar. Teimosa por falta de medo. E excesso de opção.  Nada mais é novidade pra ele. Nem o começo da arritmia. Muito menos o fim. Então ele desistiu de viver pelas poesias. O pulso ainda pulsa. Move o corpo. E só.  

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