sábado, 6 de novembro de 2010

Um, dois, três, testando.

 

Até quando serei testada? Até quando serei posta à prova? Até onde precisarei ser examinada?  

É normal se sentir um camundongo branco de laboratório? Como se você fosse eterna e diariamente testada pra continuar sobrevivendo na sociedade? Pra conseguir um trabalho minutos ou dias de testes de habilidade e beleza. Pra se relacionar alguns dias ou semanas de test drive. Pra alugar alguns metros quadrados de teto pra morar uma meia dúzia de comprovantes. Pra ser aceito nas rodas de amigos uma ou outra piada seguida de uma lambida de saco. Diploma? Só depois de responder as 1.348.294 perguntas.

Abre a boca, coloca a língua pra fora e diga AAAAAAAAAAAHH! Diga trinta e três. Coloca o pé direito nas costas. Sabe cantar? Tem alergia a algum medicamento? Tem problema de vista? Improvisa essa cena.  Dança? Anda à cavalo? Fala javanês? Leu o horóscopo hoje? Estica as pernas e mais tônus no abdômen. Comprovante de renda, por favor. É hetero? Prefere chocolate preto ou branco? Usa-se os talheres na ordem de fora pra dentro. Não ande descalça, é falta de higiene. Testeee. Som. 1, 2, 3, som. Sssssom. 

Não é bonita o suficiente. Alta de mais. Alongada de menos. Sotaque sulista não rola. Botafogo não é um bairro bom. Renda insuficiente. Passou o prazo. Cachos de mais. Peitos de menos. Não sorria tanto.   Dentes demais. Fala mais baixo que isso aqui não é teatro.  

Segura a claquete. Tati Pasquali. 28 anos. 1,68m. Sorria. Vira pro lado direito. Vira pro lado esquerdo. Da uma volta completa. Da o texto pra essa parede. Corta! Valeu! A gente entra em contato. 




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