O homem é, por natureza e, e até mais por falta de opção, um ser solitário.
Primeiro ele nasce. Sozinho. Sofre as dores de sair do lugar mais confortável (e solitário) do mundo prum outro mundo desconhecido, cheio de luz e frio, poeira e caos, sem ser consultado se essa era, de fato, a sua vontade. A medida que vai evoluindo, aprendendo a andar, falar, comer, ganhar e perder dentes, crescer, ir pro primeiro dia de aula, estudar, etc... vai, aos poucos, entendendo que estas são, cada uma delas, experiências particulares. Levantar pela manhã, tomar café, se vestir, ir ao trabalho, por mais que se faça isso tudo acompanhado, não deixa nunca de ser uma experiência solitária. Ele pode até ter alguém assitindo, mas a decisão e o ato de realizar, até mesmo as pequenas coisas, é interno e intranferível. As decisões. Os acertos. E, principalmente os erros, quem nos acompanha nesse jogo de roletas infinito, ao não ser nós mesmo?
Almoçar sozinho na correria do dia-a-dia. Assistir sozinho a um filme europeu incrível. Os sonhos, tanto os noturnos, quanto os da vida, são solitários. Por mais que eles envolvam outras pessoas. Ainda assim são solitários, porque a idealização deles só pertencem à um. O sexo às vezes também é solitário. Mesmo que envolva duas ou mais pessoas, pode ser mais solitário do que uma punheta. A morte é sempre solitária. Essa não tem como ser diferente. Mesmo em Aushwitz. Mesmo no Titanic. A morte, o desencarne, o esticar das canelas, o bater com as botas, o subir no telhado, o ir dessa pra melhor, é um ato da mais pura solidão.
Nas mansões e nas favelas. Nas escolas e nos bares. No buxixo e no silêncio. Por todos os lugares. O que mais se vê, especialmente nas grandes concentrações humanas são as mais variadas formas de ser alone.
O que dizer então da sensação de estar num estádio de futebol lotado e, ainda assim, se sentir sozinho, incompleto? De estar cheio de barulho e estímulos visuais do lado de fora e uma escuridão surda por dentro? Quem nunca passou por isso? Quem nunca se sentiu como se lhe faltasse um pedaço de carne, um pedaço de alma?
E quanto a ter todas as mulheres do mundo aos seus pés e ninguém pra lhe acudir num pesadelo no meio da noite? Ser alvo de paparazzos nas ruas e ninguém pra lhe ouvir falar sobre seu dia na tranquilidade da sua casa? Ter uma família grande e barulhenta e morar a 900 kilômetros de distância? Ser a melhor cozinheira do mundo e ninguém pra te elogiar? Ter filhos e morar num asilo? Ter um orgulho muito maior do que um amor?
São infinitas as formas pra uma mesma dor.
Alguns se sentem mais, ou menos, confortáveis na presença da solidão. Ironias à parte, a presença da solidão implica diretamente na ausência de algo. Ou alguém. Ou 'alguéns'.
Nunca vou me esquecer de uma experiência que vivi há alguns meses atrás. Estava eu no alto de um edifício em plena Copacabana agitada num fim de tarde, espiando pela janela. Fiquei observando até que acabasse meu cigarro. Aquele caos típico do local. Muitos ônibus, a rua engarrafada, um táxi que parava no meio da pista pra um passageiro subir, um senhora que tropeçava, uma mulher cheia de sacolas, gente se cruzando sem se notar, um homem quase sendo atropelado, o sinaleiro que fechava e abria, as buzinas, um zigue-zague de cocorutos de cabeças e tetos de automóveis em passos apertados. Lembro de ter previsto: "Deus deve se sentir mais ou menos assim, como eu estou me sentindo agora!" Vendo de cima tudo é uma massa. Mas de perto, quem sabe onde mora sua solidão?
(...)
As vezes também me pego observando essa correria diária de todo mundo, quantas pessoas dentro de um metrô, quanta vida, quanta gente e no fundo só cada um sabe o que realmente se passa dentro de si.
ResponderExcluirE nós mulheres que amamos demais, nos doamos demais e somos intensas demais, não estamos acostumadas a ficar só, eu pelo menos sou assim. Adoraria que aquela frase em que diz que minha presença me basta, surtisse tal efeito.
Mas não... se não tenho alguem, posso estar rodeada de amigos, perto da família, em um estadio de futebol, beijar 10 caras em uma noite, que me falta algo... e isso dói, dói e muito! Mas infelizmente precisamos aprender a conviver com essa tal solidão, pois ela sempre está aí, do nosso lado nos acompanhando...