sexta-feira, 26 de março de 2010

Qual o tamanho do seu preconceito???


Eu não sou fã de Big Brother e nunca imaginei que um dia escreveria sobre tal assunto no meu blog. Até porque sou muito mais conhecida pelas minhas catarses pessoais do que pelas minhas opiniões.

Mas há alguns dias tenho visto em faces, blogs e afins a total aversão do público pseudo-formador de opinião à figura grotesca de Marcelo Dourado. Ninguém esconde sua absoluta insatisfação ao deparar-se com a possível vitória dessa figura machista, que já rendeu intervensão judicial à emissora ao declarar que heterossexuais não pegam o vírus HIV. E não, definitivamente, eu não vim aqui perder meu tempo a fim de defendê-lo, apenas quero questionar qual o tamanho do nosso preconceito.

Nós crescemos lendo em livros infantis e vendo nos folhetins que existem os vilões de um lado e os mocinhos do outro. Mas desde quando alguém é 100% bondade ou 100% maldade?

A mitológica figura da Nazaré, por exemplo. Quem não odiou, não se divertiu e não amou essa personagem? Ela roubou, matou, mentiu, se corrompeu a troco de quê? Simples. Do amor que ela sentia por aquela filha.

Quem não assistiu ao filme Crash- No Limite, e não sentiu raiva do policial que molestou a atriz e algumas cenas depois não se sensibilizou com o cara passando as noites em claro por causa da infecção urinária do pai?

Hitler entrou pra história como o maior de todos os montros em figura humana. Mas sabe-se que ele lutava por uma causa que ele achava nobre. E, de uma certa forma, sabemos que, com todo aquele poder de persuasão, se ele tivesse brigado por uma causa que beneficiasse a humanidade toda, ao invés de só beneficiar a raça albina, ele teria sido condecorado como o maior herói de que já se ouvir falar. E, hoje, sentaríamos num banco da praia ao lado de sua estátua.

Esses são exemplos extremos, eu sei. Mas quantas vezes você foi o vilão da história? E quantas vezes você foi o atingido? Quantas pessoas te amam e dariam a vida por você? Quantas pessoas te odeiam e seriam capazes de tudo pra te tirar do caminho?

Não acho nenhum absurdo um dito machista levar o prêmio máximo do programa. Afinal, existem tantos por aí. E eu já conheci muita mulher machista. Elas também existem. Aos montes.

Ele não é muito diferente de muita gente que anda solta pelo mundo afora e fico me perguntando se essa total aversão à essa figura não é uma espécie de um auto-reconhecimento. Nunca se ouviu falar de alguém que consiga conviver bem com outrém que possui os seus mesmíssimos defeitos. Se olhar no espelho nem sempre é fácil.

Se discutimos os princípios do Dourado, se o condenamos, se o odiamos, isso também não será  uma espécie preconceito? Ou pré-conceito, como eu prefiro nominar esse sentimento de aversão?

Se ele não levar esse prêmio, ele, no mínimo, vai ficar muito perto disso, então isso significa que ele não é tão rejeitado assim. Os que o colocam na fogueira serão os mesmos que lhe darão o voto e, conseqüentemente a vitória. Então, paremos de hipocrisia. É melhor ao menos admitir que ele causa boas risadas. E é obvio que quando ele sair de lá, veremos velhinhas e crianças pedindo autógrafo pro cara. 

Eu assisti à eliminação do Serginho e fiquei me perguntando: quantas daquelas pessoas que estavam ali na platéia pra torcer por ele, sejam familiares ou amigos, realmente o amavam ou eram oportunistas? Imaginei aquela tia velha que o xingou de boiola a vida toda mas que, no momento da fama do garoto estava li pra dizer o quanto o ama e o aceita como ele é. Isso é menos condenável?

Eu não agrado a totalidade das pessoas que convivem comigo, pelo contrário, a cada dia percebo que eu irrito muito mais do que agrado, por alguma razão que desconheço. Isso também acontece com você. Afinal, ninguém é obrigado a gostar de ninguém. E ninguém, absolutamente ninguém, é obrigado a te aceitar do jeito que você escolheu pra ser. Quem aceita, ama e fica. Quem não aceita, a porta é a serventia da casa.

Deixo claro que eu não gosto nem desgosto da figura gaúcha-moicana-tatuada de Dourado, até porque eu pouco acompanho essa novelinha da vida real. Mas, se a minha humilde opinião importa, a hipocrisia de um público alienado, nesse momento, me irrita muito mais do que a forma que esse sujeito calhou de se inventar. E eu não estou dizendo, de forma alguma que ele está certo ou errado.

Qualquer tipo de preconceito é ruim, qualquer tipo de preconceito é condenável. E quem é que está completamente livre dele? Quem é que está completamente livre de exercer, mesmo que internamente, algum tipo de preconceito? Quem é que está completamente livre de sofrer, mesmo que numa porção mínima, algum tipo de preconceito?

Negros, pobres, machistas, loiras, gays, cegos, punks, judeus, hippies, cantoras de axé, ricos, analfabetos, siliconadas, índios, gordos, aleijados, atores, surdos-mudos, aidéticos, lixeiros, atendentes do Bob´s, alterofilistas, anoréxicas, portugueses, esdrúxulos, ex-BBBs, evangélicos, fumantes, socialites, Down's, nerds, favelados, idosos, alcoólatras, estrábicos, transexuais, anões, prostitutas, etcétera. Quantas pessoas diferentes habitam o mundo?

E fica a pergunta: Qual o tamanho do SEU preconceito?







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