domingo, 27 de dezembro de 2009

Rio pra que te quero!

Eu saí de casa aos 20. Casei, descasei. Mudei de casa várias vezes desde então. Já trabalhei em livraria, Pub, animei festa infantil, fiz novela, eventos, drinks, backstages, comercial, cinema, coach, door de bar, etc, etc... Já ri, chorei, namorei, desnamorei, briguei, tomei torrão, faxina em casa, porres, samba, chuva, praia (quando o mar não tá nervoso, desse ainda não perdi o medo) . Mas a melhor de todas as coisas que já fiz fui sair da minha cidade. Não que eu não goste. Eu amo! Mas sinto que não caibo mais nela. Não me identifico mais, não me vejo mais. Às vezes observo de fora e tenho a leve impressão de ter evoluído anos-luz, enquanto algumas coisas ali continuam iguais. Eu fico feliz por saber o quanto sair daqui me fez bem, em todos os sentidos. Sei que o Rio me transformou numa pessoa mais alegre, mais bonita, mais esperta e mais independente. Eu era uma menina meio caipira quando cheguei lá. Uma branquelinha que usava biquíni grande e não falava com estranhos. Aos poucos fui olhando as coisas de outra forma. Me adaptando, me conhecendo, aprendendo. E hoje sei que fisicamente, mentalmente, emocionalmente e intelectualmente nunca estive melhor. Mas ainda falta. E muito.
Mas ao mesmo tempo fico triste em perceber que algumas coisas e, principalmente, algumas pessoas na minha terra não mudam. É muita ingenuidade acreditar que não vamos mudar. Você até pode estagnar, se assim lhe for mais confortável, mas o crescimento exige mudanças. Se não mudarmos formas de pensar e de agir, não sairemos do lugar. Aos poucos. Eu mudei aos poucos. E sei que ainda vou mudar muito. Pra melhor. É o que eu busco.
Minha fitinha azul de Nosso Senhor do Bomfim ainda continua no meu tornozelo direito. Puída. Logo, logo, quando eu menos esperar ela não estará mais ali. Eu sou meio cética com essas coisas, mas acreditei tanto nos meus três pedidos que acho que de repente ela pode fazer alguma coisa por mim e pelas pessoas em quem pensei fazendo os nozinhos. Assim espero.
Agradeço a mim e a minha fé pela decisão que tomei há 6 anos e meio atrás, quando eu peguei meu falecido Kazinho e parti pela estrada rumo ao Rio de Janeiro. O Rio é um caos, é um calor da porra, as pessoas de lá não se comprometem com amor ou amizade, mas eu caibo direitinho nele. (90% dos meus amigos do Rio não são do Rio, mas outra hora eu disserto sobre isso).
Essa mini-temporada em Curitiba me fez ver coisas que eu precisava. A primeira delas é que minha cidade de nascença é uma delícia, meus amigos fiéis continuam fiéis, minha família continua uma festa, mas pra cá só venho com data pra ir embora. Fiquei feliz por mim. Fiquei triste por muita gente. E agora só quero voltar pra minha casa, que é minha. Daquele jeito que eu gosto, daquele cheiro bom, daquela atmosfera gostosa e aconchegante que só a casa da gente tem.
Rio, to voltando. Curita, nos vemos em março, no Festival de Teatro de Curitiba, que desse sim, eu tenho saudades. Matarei logo, logo minha abstinência de palco!
E que Deus, seja lá quem ele (ou ela) for sempre me apoie nas minhas decisões. Porque nós somos responsáveis por nossas escolhas.
Até agora tudo certo. Nenhum arrependimento.
"O tempo faz tudo valer a pena e nem o erro é desperdício."

domingo, 20 de dezembro de 2009

EU TE AMO!




Depois de ter criado todo o universo e sentindo-se solitário, sem ninguém nem pra colocar defeitos na sua imensurável invenção, Deus resolveu criar o homem. Ainda insatisfeito e no intuito de se divertir um bocado, Deus, então, criou o amor. O homem, inebriado com aquela nova sensação, não se deu conta que entrava num caminho sem volta.

(...)




Eu tinha uns 12. Talvez sequer tinha experimentado um beijo de língua. Fábio era o nome dele. Nem me dava muita moral. Por ser repetente, me considerava uma pirralha. Era meio malandro, vivia sendo suspenso, colocava apelido nos professores, escrevia palavrões no quadro negro a cada intervalo de aula. E era gato. Muito gato. E eu, só uma menina que escondia a timidez atrás dos óculos de grau. Sinceramente, não tenho idéia do porquê, só sei que de repente ele me olhou diferente. Me escreveu um bilhete. Implicava comigo. Me elogiava. Foi o primeiro ser do sexo oposto que me deixou sem-graça. Um dia, ao final da aula, havia um burburinho muito grande na porta de saída do colégio. Vieram me buscar. Me levaram até o viaduto que ficava ao lado do colégio. A escola inteira estava lá. Eu fui, sem entender nada. Nada. As pessoas diziam "É pra você! O Fábio fez pra você!" Nada. No curto caminho da escola até o viaduto, eu não entendia nada. Quando cheguei todos ficaram me olhando, cometando. E nada. Eu não entendia. Até que olhei pra parede recém-pintada de cinza e reclinada debaixo do viaduto. Em letras garrafais, pixadas em preto, as 3 palavras: TATI TE AMO. 10 segundos sem ar. 10 segundos sem chão debaixo dos meus pés. Ele tava lá. O que eu fiz? Pulei no seu pescoço??? Não. Absolutamente. Só consegui virar as costas e correr até o ponto de ônibus. Fui pra casa. A sensação que eu sentia era de medo. Muito medo!! Aquilo era muito novo pra mim e eu tinha medo!! (Eu era inteligente e não sabia!) Só sei que fugi daquilo. Pra sempre. Nós nunca ficamos. Todas as vezes que alguém tocava no assunto eu, prontamente, mudava o rumo da prosa. Todas as vezes em que eu passava debaixo daquele viaduto, de carro ou de ônibus, eu olhava praquelas 3 palavras. Com medo. Aos poucos eu vi outras palavras e desenhos sendo acrescentados ali. Outras pixações, outras inspirações. E quanto mais eu via aquelas palavras desaparecerem, mais aliviada eu me sentia. Eu gostava dele. Eu sonhava com ele. Meu coração acelerava por ele. Mas eu nunca tive coragem. Se eu me arrependendo? Às vezes. Mas tão às vezes quanto quando eu penso que deveria ter continuado com medo. Assim eu jamais teria vivido as tristezas recorrentes. Mas também nunca saberia a delícia e a sensação indescritível que é a de amar e ser retribuida na mesma intensidade. O ser humano é movido pelo sentimento, seja ele de ódio, tristeza ou amor. Meu amor não muda. Eu nunca esperei por uma declaração impressa nos muros ou numa jóia 18 quilates. Também não acredito em príncipes e nem em fidelidade vitalícia. Eu acredito na velocidade do meu batimento cardíaco. E já que eu entrei nesse caminho sem volta, mesmo tendo resistido na primeira oportunidade, eu não tenho saída. O que eu espero disso tudo? Que o outro compreenda o meu amor. E só.

(...)

Embora eu saiba que, nos dias de hoje, seria mais fácil esperar pela jóia.

(...) 

domingo, 13 de dezembro de 2009

Don Corleone.

O agressor de Silvio Berlusconi não tem antecedentes criminais, mas indica "possíveis problemas mentais".


Revolta agora tem outro nome...


sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Ensaio sobre o futuro.


Creio que, pelo menos, nas últimas três décadas que antecederam a virada do milênio, vivemos as delícias de idealizar os anos 2000. Em todos os países, em todos os idiomas, em todos os degraus da pirâmide social, de norte a sul, dos olhos puxados ao país tropical, do hasta ao chucruti, de onde o sol nasce quadrado às margens do Mar Morto, de cima das corcovas dos camelos aos iglus, todos se perguntavam que diabos aconteceria com o mundo quando, no dia 31/12/1999, o relógio batesse a décima segunda badalada. Uns acreditavam no fim do mundo, outros tantos no Bug. Carros voadores, viagens de férias à Lua, máquina do tempo e do teletransporte, ser vizinho dos Jetsons, pouco importa, o fato é: todos, sem exceção, acreditávamos em alguma coisa, qualquer coisa, relativa ao início de um novo século e, principalmente, à virada do milênio. Mas, para os nascidos no aclamado ano de 1982, além de todas essas coletivas especulações, havia algo ainda mais relevante: completaríamos 18 anos no exato ano de 2000. Entraríamos o novo milênio com a maioridade. Iniciaríamos um novo século com carteira de habilitação no bolso e sem mais migué nos seguranças em porta de boate. Seríamos livres num mundo novo. Donos do próprio nariz numa outra dimensão. E tudo indicava um futuro promissor. Democracia no Brasil, unificação da Alemanha,  a informação, CD e DVD, o impeachment, a internet, o Tetra, o celular, a ovelha Dolly, o  movimento pop, enfim... tava tudo certo! Rumávamos à tempos inesquecíveis. O mundo era nosso. De ante-mão, o mundo era nosso por merecimento, afinal, nascemos em 82, faz as contas!! Sairíamos de um velho milênio, do qual não nos interessava mais, abandonaríamos uma fase do nosso desenvolvimento, da qual, também já não nos instigava interesse há alguns anos e atravessaríamos um portal sem direito a volta. (não que nos fosse dada essa opção. Mas mesmo que fosse!) Ai, ai... Contávam... Bom, EU, pelo menos, contava os dias. Que privilégio! Início de um século novo, virada pra outro milênio, maioridade. Cortaríamos o cordão umbilical da adolescência, da dependência e do passado. Seríamos testemunhas oculares de uma nova era. Entraríamos em dois mundos desconhecidos de uma só vez: o do futuro e o da maturidade. E nos sentíamos capazes!

(...)                                                                                                                                                       


No entanto, cá estamos nós, bebês de 82, crianças da década de 80, adolescentes da década de 90 e emancipados pela virada do milênio. E, prestes a adentrar o ano de 2010, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 2010, ainda não vimos o mundo acabar, não temos carros voadores (eu sequer tenho um com rodas!), a máquina do tempo, por enquanto, só nas ficções e as dúvidas em relação a veracidade da chegada do homem na Lua ainda pairam no ar. A cura da Aids ainda não foi revelada, a do câncer muito menos,  seres  tão humanos  quanto nós ainda comem nosso lixo, pessoas ainda são discriminadas pela raça, classe e preferência sexual, dinheiro público continua sendo desviado gerando fome e analfabetização, muito mais lixo no mundo do que ele é capaz de suportar, guerras por dinheiro, guerras por religião, guerras por drogas, guerras por guerras, aquecimento global, intolerância, violência, desamor. Nem Chapolin Colorado numa hora dessas pra nos defender. E maioridade vira sinônimo de orfandade. Ficamos órfãos dos nossos próprios sonhos. Caímos do cavalo. Balde de água fria. Brochamos. Orelha de burro. L de loser. Nos fudemos de verde-e-amarelo. Ficamos a ver navios. Desilusão, danço eu, dança você. Mas também pudera, ninguém nunca nos disse que não podíamos acreditar nos filmes de ficção e que o Dr. Brown era só um personagem inventado por mais uma dessas cabecinhas iludidas com os anos 2000. E pros nascidos em 82 uma dupla decepção, porque também nunca ninguém nos disse que ser adulto é um saco e que as contas chegam todos os meses, sem exceção!!! Devíamos tomar uma providência!

(...)

E que venham os anos 3000. Atcha! Bendito 1982 que não me permitirá chegar lá.

(...)

Mas pode ser que a qualquer momento alguém revele ter descoberto a fórmula de congelar humanos e fazê-los ressucitar anos mais tarde. Aí poderemos nos sujeitar a essa experiência inovadora e nos decepcionar mais uma vez com nossas próprias projeções!!!




(...)

Quem sabe, ainda há uma esperança!        

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Quando a consciência nao vê.




Os botões do controle remoto brilham no escuro. Mas e se ninguém tiver olhando, eles continuam a brilhar? As árvores de Natal com seus pisca-piscas, as bolinhas de gás no refrigerante, os dentes-de-leão e as partículas de poeira boiando no ar, eles acontecem quando nenhum olho os observa, quando nenhum ouvido apurado capta seu som surdo, quando nenhum tato sente seu movimento, quando nenhum olfato sensível quase sente seu gosto, quando nenhum paladar percebe sua textura, quando nenhuma intuição o prevê????


Fico me perguntando às vezes se não é a consciência que torna as coisas reais. Se não houver uma mente consciente observando todas essas coisas, será que, ainda sim, elas continuam a sua ação? Os sorrisos das fotografias continuam incansáveis mesmo na escuridão da gaveta? A música das cachoeiras, os desenhos nas nuvens, as estrelas cadentes... só existem porque somos capazes de percebê-los, ou existem e simplesmente existem?????


E a respeito do amor? Continua o sendo mesmo que recluso? O amor ainda é amor mesmo se não posto em prática???


Essas palavras permanecerão aqui mesmo que ninguém nunca as leia??

domingo, 29 de novembro de 2009

Quero um amor maior.

Você sai. Conhece alguém. Encanta. Gosta. Recíproca. Então você se surpreende com a frequência, com a sintonia, com seu coração disparando, tão cedo! E você pede: "devolve meu coração pro bolso!" Ele não ouve, não vai ouvir. Ele gosta. A pele grita! Ele também faz tudo errado, como todos os outros. Mas a pele grita! E isso vocês ouvem. Juntos! Mas aí chega. A verdade. Que depois não é mais verdade. Virou mentira. Porque a verdade de verdade é outra. Bem outra.
Você conhecia alguém. Que já foi a pessoa da sua vida. E que não é mais. Definitivamente não mais. Por que? Ele sabe porque!

Cansei dessas relações vazias. Da falta de comprometimento. Do descaso. Da rejeição. Do desamor. Eu quero uma relação sincera, honesta, divertida. Porque eu não quero mais ser sozinha, não quero mais conhecer histórias pela metade, não quero mais cada dia um, não quero mais não ter um beijo de boa noite, não quero mais não fazer planos, não quero mais, não quero mais, não quero mais... E o mundo é muito diferente de mim. Eu quero namorar sim, porque eu já não sei o que é isso há muito tempo. Como alguém que viveu um relacionamento de anos que passou longe de um relacionamento que se preze, que se dá 100% e não aguenta mais metades, que, mesmo sabendo dos riscos, abre a guarda e não consegue ser feliz, que nunca pediu mais do que companheirismo, diversão, cinema e umas voltinhas de bike na lagoa, eu me dou todo o direito do mundo de dizer: QUEM NÃO TEM A MÍNIMA CAPACIDADE DE AMAR INCONDICIONALMENTE E A MÍNIMA CAPACIDADE DE ME FAZER FELIZ VÁ PRA P#$@V¨&##&*+!@#**. VÁ SER FELIZ NA CONCHINCHINA E ME DEIXA ENCONTRAR QUEM SAIBA.

Fase de eliminações.



P.S.1: Isso não é TPM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
P.S.2: Esse texto ficou cafona, clichê e o caralho, mas não tem como não ser!
P.S.3: Candidatos, munidos de currículo e carta de referência, favor falar com meu agente!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Despedidas me fazem chorar.




Nosso último suspiro deu-se na terça-feira da semana passada. Foi aquele chororô sem tamanho. Homenagens, declarações, tristeza misturada com muita, muita alegria. E o que fica foi tudo o que eu aprendi lá dentro. Muita bagagem profissional e pessoal eu tiro de lá. Pelas histórias maravilhosas que eu ouvi, pelos momentos incríveis dos quais fui testemunha ocular, pelos meus ídolos que se humanizaram diante de meus olhos e viraram amigos, pelas pessoas lindas que conheci, pelas pessoas que eu admirava e passei a amar, pela certeza da paixão que eu sinto pelo meu trabalho que só aumentou a cada dia, pelas guloseimas do buffet, pelos papos de camarim, pelas gargalhadas, pela admiração que conquistei, pelo prazer de vivienciar e pela dor da despedida, fui muito feliz cada minuto.
Palavras sempre faltam nessa hora, mas Cininha deu conta de publicar um texto maravilhoso em seu blog, sem se esquecer de ninguém, e que eu faço questão de compartilhar:

http://bloglog.globo.com/blog/blog.do?act=loadSite&id=17&postId=19929&permalink=true

Prefiro acreditar num fechamento de ciclo que dará lugar a uma nova fase.
Agradecida ao universo que conspirou para que eu fizesse parte desse "time" do primeiríssimo ao último dia.

Um beijo muito carinhoso, fiquem com Deus e até breve.

Tati Pasquali (Bozena)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Enquanto




Espera a noite chegar
Espera a pupila abrir
Espera o telefone tocar
Silêncio
Espera o frio abrandar
Espera o ano virar
Espera a fila andar
Espera as regras chegarem
Ufa!
Espera que ele se decida
Espera pra arrancar
Espera a tinta secar
Fresca
Espera que ela tome juízo
Espera na sala de espera
Espera revelar
O filme
Espera a voz voltar
Espera a chuva passar
Espera o leite azedar
Coalho
Espera cortar o bolo
Espera a sopa esfriar
Espera o cabelo crescer
Espera pra falar
Levanta o dedo
Espera o sol baixar
Espera o dente cair
Espera cicatrizar
Ferida
Espera fazer 18
Espera o enjôo passar
Espera bebê chegar
Espera o dia amanhecer
De olhos abertos
Espera a água esquentar
Espera o ônibus passar
Espera o tempo curar
Demora
Espera a roupa secar
Espera o dia chegar
Espera o dinheiro entrar
Espera a vontade ir embora
Ou mata
Espera a flor abrir
Espera a onda bater
Espera o prato chegar
Espera a fruta madurar
Amarra
Espera pra esquecer
Espera pra lembrar
Espera um ruído
Surdo


Vive.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Era uma casa muito engraçada...


Me lembro quando era apenas a casca. Os móveis aos poucos se encaixando. Minha pequenina irmã no moisés, com seus olhinhos curiosos. Uma dor de barriga, vontade de fazer lolinho, mas como era tudo novo eu tinha medo da descarga não funcionar. Tijolinho à vista. Um quarto pros meninos, outro pras meninas. Um erro na instalação da fiação elétrica fez com que o interruptor do quarto dos meninos acendesse a luz do quarto das meninas e vice-versa. Uma suíte pros pais. Uma churrasqueira nos fundos. Quintal, sombreiro. Ao lado um terreno baldio, que anos mais tarde deu lugar a um sobrado enorme. Na frente uma pousada, que a cada temporada vinham pessoas diferentes, de todos os lugares. Nós todos crianças. Irmãos, primos, tios, avó, amigos e casa sempre cheia. Depois do almoço era a vez das crianças lavar, secar e guardar a louça. Geladinho no congelador pras crianças e cerveja pros adultos. Jogos de cartas. Verões, carnavais, feriados. Minha irmã no andador. Que um dia, por descuido, caiu do degrau e bateu o rostinho no chão, ficando com o dentinho de leite da frente preto, até trocar pelo permanente. A tv nem sempre ajudava. Enquanto todos ficavam na frente da tv, um de nós ia até a antena do lado de fora e girava prum lado, girava pro outro. E de dentro da casa vozes gritavam: “Volta! Aí, aí. Ta bom. Não, não. Pra esquerda!” até que a imagem voltasse a ficar nítida. Revistas em quadrinhos. Meu irmão, muito anti-social*, não saía de casa, não pisava na areia. Um dia minha prima mais velha chega na sala com um lençol molhado dizendo: “quem fez xixi na cama?” Ninguém se acusa, até que descobre-se o autor.

Eu, na praia, ainda muito criança, enquanto todos falavam: “tira a parte de cima do biquíni, você ainda não precisa!” e eu teimava em usar. Onde já se viu, ficar sem a parte de cima. Mas moleca que só eu, só me dava conta que a “cortininha” tava quase no pescoço, no meio do peito, deixando aparecer o peitinho, quando riam de mim. Muitos banhos na piscina de plástico. Muitos Reveillons com a casa cheia e mesa farta. Bateria de fogos de artifício. Muitos carnavais no Bier Halley com as primas e a tia, que fazia questão de nos arrumar. Puxava todo o cabelo num rabo lateral, nos deixando quase japonesas. Desenhos e purpurina no rosto. Fantasias. Havaiana era a preferida. Brincadeiras de esconde-esconde, onde, uma certa vez, brincando de se esconder no carro, minha prima fechou minha mão na porta, me deixando com dois dedos estourados e, assim, me agradando o resto da temporada para que eu a perdoasse pelo acidente. Algumas intoxicações alimentares, algumas insolações, tratadas a maisena. Quedas da rede, que nossas mães cansaram de avisar que não era balanço. Quartos e salas amontoados de gente pra dormir. Pernilongo. Muito pernilongo.

Medo e gritaria quando aparecia alguma pererequinha dentro de casa. Passeios no centro a noite pra tomar sorvete e jogar fliperama. O trenzinho que passeava pela cidade com as crianças e gente vestida de bicho. Raspadinha de groselha. Brincadeiras na carroceria da Pampa do meu pai, onde eu dei conta de rasgar três calcinhas na hora de descer, no mesmo dia, porque o ganchinho da lona agarrava no shortinho. Joelhos ralados por conta dos caixotes no mar um pouco nervoso, mas de água morna. Alguns quase-afogamentos, evitados por algum adulto. Castelinhos, buracos, vez de enterrar quem? Caramujos, sirizinhos, conchas e estrelas do mar. Pé com piche. Patins, skate, bicicleta, bola, frescobol, bet’s, cachorro. Quando chegaram os namorados era no quarto dos meninos que eles dormiam. E a casa passou a não ficar tão cheia. No freezer nada de geladinho, só cerveja mesmo. A notícia da morte da Cássia Eller, na tv, ao vivo. “Mãe, empresta a chave do carro!” As crianças já tiveram crianças, as idas até lá cada vez mais raras.

Não tenho nenhuma passagem por lá nos últimos anos, mas guardo com carinho e saudade cada uma das minhas lembranças. Que são muitas. Na nossa casa de praia. Esse ano vou até lá. É uma promessa!



Ando me sentindo sozinha. Ando me sentindo nostálgica. Ando sentindo saudades. 







Que tempo bom que não volta nunca mais...  







* Não gosto da nova norma da língua portuguesa. Prefiro assim.    

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A Arte do Viver-se Só!

Eu gosto de usar o termo "Arte" na hora de falar sobre certas proezas humanas. Porque trata-se de uma arte. Tem referências, tendências. Assim como escrevi um texto, no início das minhas atividades nesse blog, que eu considero um dos melhores e mais inspirados que já escrevi. Se chama "A Incrível Arte do Não Saber Amar". Pra quem ainda não leu, ou já leu e quer relembrar:
http://blogsarau.blogspot.com/2009/06/incrivel-arte-do-nao-saber-amar.html

A arte do não saber amar está intimamente ligada à arte do viver-se só. Mas nem tanto! Porque amar ninguém ensina, a gente já nasce sabendo. Já nascemos amando mamãe e papai. Também amamos nosso cachorrinho de estimação, nossa professora de alfabetização, nossos bonequinhos que imitam super-heróis, etc... Mas algumas coisas ficam pra trás depois que abandonamos o Paraíso. Mordemos a maçã do conhecimento, perdemos a ingenuidade, saimos do ninho familiar e vamos desbravar o mundo. E o mundo é bem diferente do aconchego do ventre e muito mais cruel do que as brigas com os irmãos pra ver de quem é a vez de jogar video game. E nos sentimos órfãos. Órfãos. E vamos, pelas próprias pernas, traçando caminhos, cruzando nossas histórias, nos apaixonando e experimentando sentimentos nada razoáveis. Porque  o que é a dor ninguém ensina. Também já nascemos sabendo. Então aprendemos que o amor e a dor são companheiros. Amar a camisa de um time já tráz embutido o risco de chorar numa derrota na final. Encontrar o suposto amor da sua vida já vem acompanhado da possibilidade da prática não vingar. Então decidimos viver só. É melhor não assistir a derrota da arquibancada. Mas seu time poderia vencer com você na torcida.  Pena que não sacamos isso a tempo. Como válvula de escape usamos os exemplos alheios pra justificar nossas causas. "Fulano é casado, mas ele ganha muito dinheiro, ele pode!",  ou então  corrompemos nossas próprias causas: "Eu não tenho emprego fixo, não posso namorar ninguém!" "Ele não mora na Zona Sul, é muito longe pra manter frequência!" "Não tenho patrimônios, não posso ter filhos!" Sim, o auto-boicote faz parte dessa arte! Atacar pra se defender também é solucionável. Xinga, desdenha, manda o princípio básico da educação pras cucuias, destrói um coração. Se fica triste ao fazer isso? Claro que sim! Mas afasta-se o ser amado. E Bingo! Está sozinho novamente. E de obstáculo-proposital em obstáculo-proposital vamos vivendo sozinhos. Sexta a noite é dia de sair com a galera, tudo certo! A melhor roupa, no melhor estilo. Samba, rock, forró. Cerveja, cachaça, pandeiro. E a gente entra na leva. Entra no ritmo. No fim, vai pra casa sozinho. Ou acompanhado. No dia seguinte estará sozinho. Ou acompanhado. Mas inacessível. É importante manter-se inacessível na arte do viver-se só. Viver cercado de gente, mas sozinho. Numa multidão, sozinho. Por opção. Você vive cada dia com um, cada momento com outro. Manipula o seu ontem pra pessoa de hoje. Esconde seus sonhos pra de ontem. Não confessa seu presente pra de amanhã. E você vive, sem que quem dorme com você saiba como você acorda. Quem almoça com você desconhece suas tardes vazias. E segue. Espalhando migalhas, se alimentando de avos. Amor só o platônico. Daqueles que você mantém só pra você, onde você pode manipulá-lo ali no seu mundo, sem declarar, sem confessar. Daqueles que você olha pro ser amado e idealiza um mundo só de vocês, lá na frente, de mãos dadas numa cadeira de balanço vendo os netinhos correndo pela sala. Mas num momento de lucidez você enxerga sua total incapacidade de abandonar seu escudo. E enquanto você luta contra você mesmo o tempo não espera. O trem saiu da estação. Mas se você correr quem sabe você alcança. Não dá. O mundo secreto do platonismo segura suas pernas. Um passo. Você perde toda a possibilidade de não viver mais só porque deixou de dar um passo. Um só. Vai viver só. A dor já não está ali??? Na solidão??? Está. E ela pode até ser maior do que a dor de tentar, de se entregar, de confessar e não dar certo. Mas, pelo menos, só quem vai saber disso sou eu! Só quem vai sentir sou eu. A arte do viver-se só tem um quê de egoísmo.

Isso é uma auto-biografia. Ou não. Talvez uma mundo-biografia. Mas meu mundo é divertido e delicioso demais pra ficar só pra mim. Quero dividí-lo. Pipocas doces, banhos de mar, bicicleta, música, sexo, Nutella e bobagens. Discussão, apatia e mal-humor. Porque ele é delicioso mas não é perfeito. Dividir com um. Até que 1+1 some 2. Depois 3 e um cachorro. Foda-se o mundo. Se o mundo prefere a solidão eu vou à Marte.

domingo, 25 de outubro de 2009

Duas histórias alheias. Um sentimento meu.

: : Desde que iniciei esse blog, me apareceu uma pessoa que sempre lê as bobagens que escrevo. Um dia ela me adicionou no orkut dizendo ser uma fã do BlogSarau. Não aceito pessoas que não conheço. Mas tive curiosidade e decidi manter por perto aquela pessoa, que de cara me pareceu tão genuína quanto sensível. Ela nunca deixou comentários aqui, sempre preferiu me deixar depoimentos, o que me fez pedir que ela deixasse seus recados no blog, pra que todos possam ler, visto que seus comentários são sempre tocantes. Ela então me pediu para adicioná-la no MSN. E só essa semana conseguimos conversar um pouco, devido aos nossos desencontros. Depois de algumas linhas de conversa ela inicia o assunto (vou tentar reproduzir da forma como lembro):
Ela: Você vai com frequência à Curitiba?
Eu: Sim, duas ou três vezes ao ano. E você? (ela é de Santa Catarina e também mora no Rio)
Ela: Na verdade faz pouco tempo que voltei, passei por uma barra muito pesada, precisei ficar lá por algum tempo, perto dos amigos e da família pra me recuperar físico e emocionalmente. Estou retomando minha vida e meu trabalho aos poucos.
Eu: Vixi. Aposto que foi desilusão amorosa!
Ela: Se fosse isso teria sido muito mais fácil me recuperar. Foi mais grave. Logo depois do Carnaval eu sofri um acidente de carro com minha mulher. Ela não resistiu. E eu escapei por muito pouco.

(...)

Mais um daqueles momentos em que as letras não formam palavras e as palavras não formam frases.

(...)

Admiro quem consegue sobreviver à essas rateiras da vida. Não deve ser fácil levantar e continuar andando. Também não deve ser nada fácil querer continuar. A vontade de viver deve nos escapar às vezes...

(...)

Fazem alguns minutos que eu tô tentando escrever algo mais, mas realmente as palavras nao vêm...
Sinto muito...

(...)

: : Também acompanhei de perto o caso do acrobata da Intrépida Trupe, visto que meu professor, e amigo, de acrobacia é da Intrépida. Por telefone ele me relatou como foi enfiar o pé na porta da casa do rapaz e encontrá-lo daquela forma.

(...)

Desculpe, meu amigo, por não poder te falar nada que realmente lhe fosse confortante. Desculpe minha falha. Desculpe minha impotência. Mas se você assim quiser, podemos ir novamente até a Pedra Bonita e, dessa vez, saltar de asa delta e ver se lá de cima conseguimos vê-lo fazendo piruetas em alguma nuvem.

(...)

Eu nunca perdi alguém tão próximo. Eu desconheço a sensação de querer pegar o telefone e ligar pra pessoa pra falar qualquer bobagem, pra contar qualquer coisa, ou só pra desejar bom dia, e não poder fazer isso porque do outro lado da linha ninguém vai atender.

(...)

Mas eu agradeço por vocês terem dividido comigo suas histórias. Histórias essas longe de terem finais felizes. Mas que, de alguma forma, ativaram um botãozinho em mim, até então esquecido.
Nós, mortais, não podemos prever quando algo como isso acontecerá em nossas vidas e, muito menos, podemos evitar tais coisas. Nosso corpo é frágil e tem data de validade. Amanhã pode ser eu. Amanhã pode ser alguém importante pra mim. Alguém realmente importante. E eu peço desculpas a mim mesma por ter desperdiçado tanto tempo e tanta energia com o que não me era saudável. Com o que não me fazia feliz.  Com o que não servia pra mim. O meu tempo é curto. Minha vida não vai durar pra sempre. E nada do que eu posso tocar eu vou levar comigo. Ás vezes eu sinto saudade de mim mesma. Hora de cuidar do que vem dentro. Do coração à alma. Da consciência ao amor. Hora de dar importância ao que realmente é importante. Pra mim. Pra minha família. Pros meus amigos.
Eu estou aqui. Pra vocês. Pra nós. Por pouco tempo, eu sei, mas eu estou aqui.

(...)




Cansei de ser triste...                                 

(...)





(Podia ter sido ontem. Quase botei fogo na casa porque esqueci a chaleira no fogo. A chaleira derreteu. Graças ao elemento Ar do meu signo, eu sentia o cheiro de queimado e achava que não era comigo. Hahahahaha. Tem coisas que só eu mesmo. Bate na madeira três vezes. Knoc. Knoc. Knoc.)

 

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Remota Memória.



A lembrança mais antiga que tenho da minha vida é a casinha de madeira na Vila Hauer, onde morei até os 3 anos de idade. Lembro da tábua corrida do chão, do muro baixinho, da grama meio gasta. Lembro do meu quarto. De uma penteadeira cheia de bonecas com os rostos rabiscados de canetinha,  porque eu já era uma artista. Lembro de um sofá. Lembro da minha mãe sentada nele. Lembro da moto do meu pai. E da Brasília amarela. É tudo muito vago. Flashes. Mas aquilo era de uma segurança total pra mim. Eu me sentia protegida, como nunca mais voltei a me sentir um dia.



A segunda lembrança mais antiga que tenho da minha vida é a casa onde funcionava o escritório do meu pai. Um sobrado. Minha irmã ainda era um anjo no céu. Até então éramos só eu e meu irmão mais velho. Passávamos algumas tardes lá. Era uma casa muito grande, com um pé de mamão nos fundos. Mamões esses que nunca vingaram, porque a gente gostava de fazer um risco no mamão verde com a unha e ver aquela água leitosa pingar da fruta. Um quintal grande cheio de quinquilharias e a gente desbravava aquilo tudo. O segundo andar da casa era cheio de quartos. E a escada pra se chegar até lá era imensa. O corrimão fazia vez de escorregador na hora de descer. Na cozinha um velho fogão à lenha. Um cheiro naquela casa que nunca esqueci. Muitos anos depois, coincidentemente, essa casa foi vendida à um genial ator e diretor de clowns, onde eu fui estudar por alguns meses. Anos tinham se passado quando voltei a entrar naquela casa. Minha primeira reação foi questionar o porquê tinham diminuido a escada que dava pro segundo andar da casa. Barulhinho de ficha caindo. Eu é quem tinha crescido!


Por que mesmo a gente tem que crescer?

(...)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Hakuna Matata.




Quando o mundo vira as costas pra você, você vira as costas para o mundo! 
Isso é viver!






(ativando o botãozinho do foda-se!)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A vida é a arte do encontro...




A Terra gira e faz tudo aqui voltar pro mesmo lugar.
Quando alguém tem a nítida sensação de te conhecer de algum lugar. Você dá algumas opções possíveis.
- Trabalho. Festas. - Não. E não. Tenho certeza que não. - Então não sei. Desculpa minha memória fotográfica, ela não é das melhores. Além do mais, eu sou míope.
E você não liga. Mas quando ele te dá uma carona até em casa, como numa fita rebobinada vocês viajam no tempo. 4 anos atrás.
- É isso! Eu já vim na sua casa! Uma festa. Com Fulano.
Alguns segundos depois.
Você lembra. Mas a sua lembrança não tem movimento. É uma foto. Aquele rosto. Sua sala como pano de fundo.
- Era você. Sem dúvida. Que louco isso! Você precisou me trazer até aqui pra lembrar. E eu precisei que você se lembrasse porque me trouxe aqui pra eu poder também lembrar. Mas lembro. Lembro de ouvir seu nome.


O Sol gira e faz tudo aqui mudar de lugar.
Quando vocês se cruzam na rua. Dia sim. Dia não. Você conhece aquele rosto. Aquele rosto te conhece. Três dias sim depois vocês resolvem parar. E falar.
- Sim, Curitiba. - Faz tempo! Faz muito tempo. - Você não mudou nada. - Você melhorou muito!
E trocam telefones. Muitos dias não depois você liga pra aquele número. Por engano. Um nome tão comum. E se re-reencontram. Só pela voz. Muitos meses não depois você começa a tropeçar  nele direto. Amigos em comum. Cidade em comum. Arte em comum. 
- Nós nos beijamos. Tem quase uma década.
- Impossível. Eu me lembraria.
Não lembrou. Afinal, faz muito tempo. 


Alguns registros ficam pra uns. Nem tanto pra outros. Ás vezes um detalhe. Na maioria dos ás vezes, uma imagem congelada. Ou uma voz.


E daqui a pouco alguém passa. Outro repassa. Pode ser que fique por um tempo. Talvez muito. Talvez tão pouco. E pode ser que daqui a pouco vocês tropecem. E mais um pouco de daqui a pouco vocês retropecem. Aqui. Em outro estado. Em outro país. Ou continente. Na outra extremidade do planeta. Eu tenho vontade de ir ao Japão. Mas não sei se aguentaria ficar muito tempo de ponta-cabeça.








... Embora haja tanto desencontro pela vida!

domingo, 4 de outubro de 2009

Halo

TÔ APAIXONADA.



sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Enquanto eu não durmo.







Enquanto Morpheu, mesmo que com pouco trabalho (afinal, essa cidade não pára), não me dá o ar da sua graça, eu fico tecendo pensamentos, enquanto alguém fala na tevê e eu divago longe, muito bem acomodada no meu travesseiro da Nasa. Fico me perguntando até quando. Até quando amar. Até quando mentir. Até quando chorar. Até quando. Deu, né? E a gente cansa de bancar a desprotegida.


Outro dia numa conversa com um amigo, que já vai em meados dos trinta, me disse que não percebe o envelhecimento, que ele continua sendo o mesmo, com a única diferença, claro, da cabeça, da forma de pensar. Será mesmo que não percebemos o tempo passando? Ás vezes eu bato o pé quando alguma coisa não sai do jeito que eu queria. Outro dia quase chorei porque o sanduiche grudou na sanduicheira. Será que ainda não me dei conta de que já não tenho mais oito anos de idade? Talvez no mesmo dia do espisódio do sanduiche eu peguei uma balada e fui dormir as 6 da manhã num estado de semi-morte, pensando: não tenho mais idade pra isso! Será que também não me dei conta que pra ser velha ainda faltam uns 40 e tantos anos?  Será? Será? Ai que confusão. Certo que quando mais nova não via a hora de chegar aos 18. Agora tá tudo bem. Também não voltaria se assim pudesse. Aqui tá maneiro.


A idade tá na cabeça, tá na cabeça!!  Tenho certeza de que já ouvi isso de algum idoso por aí.


A propósito, seria justo vivermos os 17 com ares de 27? Nossa, 17! Há dez anos atrás eu experimentei cigarro pela primeira vez. Não tinha maiores obrigações do que ir à escola todos os dias pela manhã. Nessa época também me apaixonei por um menino. Flávio. Que um dia me beijou no palco do teatro do colégio. Me beijou para a platéia vazia. Na penumbra. Só nós dois. Que nem nos tornamos protagonistas porque não tinha ninguém pra assistir. Me lembro de ter saído correndo. Saí correndo pela porta dos bastidores do teatro, depois pela porta do prédio do colégio e, finalmente, pelo portão. Acho que só parei de correr do lado de fora, esbaforida. Na rua. Hoje, eu não fujo de beijos. Nem de discussões. Nem de mãos. Nem de olhos. Fujo, essa sim, das promessas. Mas meu corpo nunca esteve tão no lugar, minha cabeça nunca esteve tão presente, meu coração nunca foi tão realista. Se eu tivesse sacado algumas coisas aos 17 tudo teria sido tãão diferente. OK! Não adianta, eu precisava ser fútil, dramática e infantil pra hoje ter a percepção do quanto já fui fútil, dramática e infantil. Também é bem provável que daqui a 10 anos eu esteja rindo e/ou me culpando dos meus atuais 20 e poucos.


Mas é bom já ir longe dos 17!


Cantada, pra mim, hoje é: "Que maravilha! Você não sabe como é bom pegar num peito sem silicone! Silicone, mulher põe pra mulher, homem não gosta!"  Ou então: "Eu gosto de conversar com você. Você me faz rir"


Declaração do mínimoamor: "Pára de invocar Deus, deixa ele lá quieto no canto dele!"  (...) "Mas agora a gente tá mais perto dele, então tá tudo certo!"
Até aí nenhum "Eu te amo". E tá tudo certo. Há muito pouco tempo atrás era a morte!


Me lembro de que quando tinha 18 uma amiga dez anos mais velha me disse: "Ai que saudades dessa epóca. Aproveite, viu? Aproveite enquanto você ainda tem a capacidade de amar de uma forma pura, porque conforme o tempo vai passando, as coisas vão mudando, o amor vai mudando!" Pode até ser. Mas não dá pra se apaixonar adolescentemente pra sempre. Ou então não faremos mais nada na vida! A gente também cansa de viver aquela relação intensa, cheia de brigas e picuinhas. Se derreter  chorando na parede quando ele vai embora. Tipo Toni Braxton em Un-Break my Heart. De querer devolver as cartas e cortar as fotos. Ai, aquele pezinho lá no México, não adianta negar, todo ser humano tem sua porçãozinha mexicana. Uns mais, vá lá. Aliás, chega de novela mexicana! Tô mais pra um seriadinho da Fox!


E eu tenho percebido os garotos sub23 não prestando mais tanta atenção assim nas menininhas. Alguma coisa é mais interessante pra eles nas mulheres. Não posso ser hipócrita, a gente sabe onde moram esses interesses. E eles moram em vários lugares. Mas não fiquem zangadas meninas, por favor, tudo o que eles fazem de bom, gostoso e gentil eles aprenderam com a gente, então não reclamem. Enjoy it!


Mas quando será que aparecerá o primeiro pé de galinha? Alguém vende Natura? Chronos. Não custa tentar.



segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Programação Cultural.

A semana rendeu e eu só queria compartilhar as coisas e momentos incríveis que vi e vivi nesses últimos dias.


Quinta-feira fui à cerimônia de abertura do Festival de Cinema do Rio, com convites gentilmente cedidos por Norma. Depois da disputa por se conseguir um lugar pra sentar e da apresentação feita por Christiane Torloni e Tony Ramos, com direito a discursos do prefeito e homenagens, assistimos ao filme Aconteceu em Woodstock, do Ang Lee. Foda! Muito engraçado e sensível. Destaque para a atriz Imelda Staunton.

Depois vem a festinha, claro. Arregada a comidinhas, bebidinhas e pessoas interessantes. Melhor impossível.



Sexta-feira foi dia de ver o show de Marisa Orth, intitulado de Romance-volume 2, no Teatro Rival. Genial. Se eu já era fã dessa mulher fiquei ainda mais. Ela consegue ser sexy e engraçada, debochada e inteligente, tudo ao mesmo tempo. É de uma versatilidade incrível, uma segurança indescritível. Isso sem falar na criatividade e espontaneidade. Coloca os novos atores-comediantes-stand up comedy  no chinelo. Ela cantou músicas de romance (e como canta!) , contou história pessoais sobre o tema. Eu mesma me identifiquei em vários momentos. Um prazer enorme trabalhar ao lado dessa figura querida!

Depois foi a vez de conferir a peça O Interrogatório, que fez maratona, com 24 horas ininterruptas de apresentação no Teatro Laura Alvim. A peça durava cerca de 5 horas, que foi sendo repetida pra completar um dia todo, se tratava de um interrogatório para julgamento de nazitas depois da Segunda Guerra.. Eram vários atos de 40 minutos, onde existiam pequenos intervalos de 3 minutos pra que a platéia entrasse ou saísse. Era possível ver o tempo que desejasse. Apesar de estar adorando só pude assistir a dois atos.  Três amigos meus faziam parte do elenco. Achei divino! A arte tá mesmo precisando de idéias novas e pessoas corajosas. E eu adoro essas coisas loucas!


Sábado. Destino: Citibank Hall. Show: Daniel. Sim, ele mesmo, cantor sertanejo. Estou longe de ser fã. Música sertaneja pra mim só as antigas, que eu ouvia quando pequena enquanto viajava pro interior do Paraná ou pra Sampa com meus pais. Mas o cara é foda! Muito emocionado ele fez um show que durou mais de duas horas com casa lotada. Depois do show vale a passada no camarim. Lá ele me ganhou de vez. Super carinhoso, deu atenção pra todo mundo. Visivelmente muito feliz, fez festa, bagunça e cantou mais algumas canções ali só pros amigos. Inclusive uma versão engraçadíssima da música de abertura da novela, que não cabe contar aqui. Rs. Uma pessoa muito sincera, uma pessoa de coração.Ganhou mais uma fã.

Domingo, dia de ver a estréia do filme Morgue Story, da companhia Vigor Mortis de Curitiba, no cinema do Centro Cultural Justiça Federal. Único. Alguém tem que fazer bom cinema no Brasil que não seja os mesmos documentais de sempre, falando sobre favelas e cadeias. E por que não contar histórias trashs? Palmas pra Paulo Biscaia, roteirista e diretor. Pela batalha e pela coragem de fazer algo novo. Guardem esse nome. E a melhor parte foi encontrar muita gente boa de Curitiba, matar as saudades. Me senti em casa!

E o que é melhor disso tudo: não gastei um centavo!!! Viaipi. Delícia.

E como diz Lelo: "A gente mora onde as pessoas passam as férias!"

E que venham mais finais de semana maravilhosos como esse!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

As coisas mudam.



(...)

Engraçado isso. Quem foi o estúpido que disse a tal calúnia: A PRIMEIRA IMPRESSAO É A QUE FICA?????????????????? Ele já foi preso? Mas pelo menos recebeu uma advertência?
Mentira!
Calúnia!
Susan Boyle ta ai pra provar isso.
O quiabo ta aí pra provar isso. Quer coisa mais gosmenta do que aquilo? Mas experimenta com frango pra ver.
Minhas melhores amizades nasceram justamente com aquelas pessoas pelo qual eu não tinha afeto algum. Eu olhava pra pessoa, mirava em algum defeito e ali ficava. Instalada entre o defeito da pessoa e o meu pré-conceito. Não menos do que dias depois aquela “desadmiração” toda cai como que por encanto. Então eu descubro alguém nem melhor nem pior que eu. Apenas uma companhia incrível. Então eu também me redescubro uma boa companhia.
Confesso que da primeira vez eu não gostei daquele peixinho cru e gelado. Hoje eu simplesmente sou apaixonada. Tudo bem, por um jantar no japonês nem precisa ser tão amigo assim.
O lustre azul, século retrasado da minha sala, eu quis me pendurar e arrancar na primeira vez que vi, tamanho o susto! Mas hoje até que gosto. Todo mundo adora aquele lustre, deve mesmo ser bonito! 
Também tive receios quanto ao açaí. Hoje em dia, na ressaca, é o melhor remédio. Acho que tenho tomado açaís demais...
O Código Da Vinci por exemplo, todo mundo lia e eu achava q era perda de tempo, especulações, viagem de ácido, sei lá. Fui a última das criaturas a ler. Genial!   
Frida Kahlo??? Não, essa não tem jeito mesmo!!! Não consigo gostar! E olha que eu já tentei!
Chocolate? Na verdade desse eu gosto desde que nasci, desde que encarnei nesse corpo.
Leite em pó??? É uma longa história. Comia tanto que um dia passei mal. Leite por cima, leite por baixo. Depois disso só o liquido mesmo! E com chocolate!
Nada é tão seguro que não possa se tornar efêmero. Afe! Daonde saiu essa frase?
Garçom... Traz mais uma.
Ic.


(...)


Eu, por exemplo, nunca acreditei nesse negócio do homem pisar na Lua. Só porque a tal cadela Laika e depois um astronauta Russo deram uma sobrevoada no espaço, os Estados Unidos fizeram o que? Inventaram essa história. Simples. O filme? Digno de Oscar. Como assim, “como assim”? Amigo... Se em 1969 os caras pisaram na Lua e ainda transmitiram ao vivo, falaram com o presidente por telefone e o caralho hoje a Xuxa já teria um terreno na Lua. As pegadas, presta atenção, tudo fake. Era a guerra fria, queria o quê?!
Pergunta pra eles quem é o pai da Aviação, eles renegam o Santos Dumont, coitadinho. Os estadunidenses querem conquistar o mundo. Conspiração. Por isso que agora eu tenho uma sacola retornável pra ir no mercado. Parei com essa coisa de ficar levando sacolinhas pra casa. Mania que caixa de supermercado tem de colocar uma sacolinha dentro da outra, aí você vai pra casa com dois pães, um iogurte e 17 sacolinhas! Vamos reciclar!
Taxista. Posso levar o cone? To fazendo coleção.
Ic.


(...)


E a inflação?
Eu me lembro da época em que a passagem no ônibus custava 45 centavos. Minha mãe me dava 1 real pra ir a escola. Ia, voltava e ainda comprava três 7Belo’s por 10 centavos. Você sabe quanto custa uma Méquioferta na Itália? 3 euros e pouquinho. Mas não faz os cálculos pra converter pra Real porque quem mora lá ganha em Euro. E as crianças lá, com menos de três anos de idade já falam italiano!!! Não é incrível?! A Colcci? Gente, a Colcci vendia moleton e camiseta. Eu mesma tinha vários moletons pra enfrentar o inverno “polar-ártico-glacial-antártico-russo” de Curitiba. Agora custa o olho da cara uma regatinha básica branca.  E a Havaianas! Era chinela de pedreiro. Azul com branco ou preto com branco? O homem por exemplo, já foi macaco! A borboleta já foi lagarta. O Renato Aragão já foi um puta comediante! Eu mesma era uma adolescente horrorosa! Usava óculos tamanho G, aparelho fixo nos dentes, freio de burro e franja. Sim, porque eu não entendia que em cabelo cacheado não da pra ter franja. E hoje até que não sou de se jogar fora, né?! Causo uns estraguinhos por aí. HSBC já foi Bamerindus. O tempo passa, o tempo voa...
As coisas mudam. Por isso que eu sempre digo: Nada é tão seguro que não possa se tornar efêmero. Adoro essa frase!
Amiga?! Dormiu?!?!
Rrrrr.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Ás vezes é preciso varrer o teto.




Minta pra mim
Me diga que eu sou igual as outras
E que sem mim é mais divertido
Troque meu nome, não me reconheça
Não conte comigo, não seja meu amigo

Minta pra mim
Me diga que você nunca gostou do meu gosto
E que meu gozo não lhe tira o ar nem assim
Que não gosta quando pego no seu cabelo
Que nossas músicas não foram feitas pra mim


Minta pra mim
Me diga que você não ouviu nada do que eu falei
Que o livro que te dei você jogou fora
Me diga que eu não sou a mulher perfeita
Que se eu fosse você estaria comigo agora

Minta pra mim
Me diga que seus amigos me odeiam
E que você não nunca gostou da minha comida
Que sua família não me suporta
Que eu nunca fui a mulher da sua vida

Minta pra mim
Diga que as brigas eram sempre sinceras
E que você não quis me abraçar quando tive pesadelo
Me diga que conversar comigo não tem graça
E que você odeia meu cabelo

Minta pra mim
Me diga que sua cidade agora é minha
Que pra sempre andarei por ela e não te verei mais
Diga que você nunca me amou
Nem hoje, nem ontem, nem há tempos atrás

Diga que eu estrago, não valho, migalho
Me diga que você não me acha foda
Não gosta da minha roupa e nem sente minha falta
Me diga que meu melhor pra você é pouco
Diga que meu beijo é ruim
Diga que me odeia se preciso for
Faça qualquer coisa, mas minta pra mim


sexta-feira, 18 de setembro de 2009

SOMEWHERE ONLY I KNOW.


Meus olhos já viram muitos lugares, pessoas, tempos, mares, cores.


Já vi a Ilha do Mel dentro daquela magia que eu chamo de "universo paralelo".
Vi cidades lá de cima do avião, hora com suas geografias confusas e assustadoras, horas com a sensação de que alguém desenhou a cidade com régua.
Vi a neve.
Vi a festa de Reveillon mais famosa do Brasil. Algumas vezes.
Vi a Catedral Duomo e a Galeria de Uffizi em Florença, com suas arquiteturas fenomenais e únicas.
Vi os moinhos a caminho de Toledo, que, supostamente, inspiraram Cervantes a escrever o capítulo da luta de Dom Quixote contra os "gigantes".
Vi Porto com seu ar de Transilvânia, com igrejas, morcegos e vinhos, muitos vinhos.
Vi castelos, paisagens bucólicas, museus, obras de arte.
Vi Picasso. Boticceli. Miró.  
Vi as intermináveis plantações de café no interior do Paraná. 
Já vi espíritos.
Vi a cidade de cima de uma roda-gigante.
Vi a Avenida Paulista e sua ausência de fios elétricos. 
Vi uma estrela cadente em Floripa.





E hoje eu fui até lá!!!


(...)


Parece um sonho ver o mundo lá de cima. Me senti mais ou menos como Deus, vendo tudo tão pequeno lá embaixo e tudo tão azul lá em cima.
É bom poder chorar e ser confortada ao invés de recriminada.
Por um começo de tarde eu me esqueci.


Esqueci que minha família tá longe e da saudade que eu sinto.
Esqueci que não estou vendo meu sobrinho crescer e que talvez ele nem lembre muita coisa de mim.
Esqueci que mês que vem meu contrato acaba e eu estarei desempregada.
Esqueci que há meses tento comprar uma bike e nunca sobra dinheiro.
Esqueci que mais uma vez vou cozinhar só pra mim.
Esqueci que meu dinheiro nunca é suficiente pro mês.
Esqueci que a casa tá imunda e que eu tenho que encarar uma faxina.
Esqueci que não posso mais acender um cigarro.
Esqueci que tenho muitos assuntos inacabados.
Esqueci que não vejo possibilidades de comprar um carro ou ter um filho pelos próximos anos.
Esqueci da dor de gostar de alguém.
Esqueci que minha profissão é uma luta diária e que às vezes não tenho mais de onde tirar forças.
Esqueci que há muito tempo eu não sei o que é ir ao shopingg e fazer compras.
Esqueci que meu pai tem outra família.
Esqueci que eu sou de gêmeos.
Esqueci que minha cama parece cada vez maior.
Esqueci que sinto uma enorme falta de ter um cachorro.
Esqueci que nunca pude dar um presente bacana pros meus irmãos.
Esqueci que nunca dei uma jóia pra minha mãe com uma pedra da cor dos seus olhos.
Esqueci que ultimamente tenho me sentido um "siri na lata".
Esqueci que mais um ano tá acabando e eu ainda não ocupei o meu lugar.
Esqueci da solidão.
Esqueci que Deus se esqueceu de mim.




Me deu uma vontade louca de, uma vez por todas, realizar um sonho antigo: colocar uma mochila nas costas e sair vagando pelo mundo. Sem rumo. Pegando carona. Conhecendo gente. Lugares. Sem conta de telefone pra pagar. Sem tarefas chatas do dia-a-dia. Tomar um banho de mar no Índico. Falar outras línguas. E guardar meu mundo numa mochila.
O que me impede? Já moro longe das pessoas que amo. E numa dessas caminhadas, quem sabe a gente não se encontra?
Minha alma pede liberdade! Não quero mais ser escrava de meus próprios ideais.


Quero ser a próxima protagonista de "Na Natureza Selvagem". Mas sem abrir mão do Eddie Vedder. Porque toda boa história precisa de uma boa trilha sonora.